O Piolho
Cansado dos meus dias de pulga,
tomei a forma de um piolho.
Contrariando a preferência da espécie,
instalei-me em um abrigo de
madeixas formosas.
Com muito esmero,
preparei uma cama confortável entre
os fios e pernoitei como um rei.
De manhã, com tantas opções atrativas a serem
exploradas, materializei o veículo
guardado no inconsciente daquela mente sedutora e
parti rumo ao deleite.
Percorri as linhas de expressão e me encantei
com a aurora boreal ocular que, por algum
motivo implícito, transformou-se em cachoeiras.
Saciei a minha fome com o mel
das palavras ditas com paixão a alguém
de identidade secreta.
Num momento de alegria, superei o terremoto
de um sorriso, e sobrevivi à tormenta de um espirro.
Mais tarde, aventurei-me nas dunas voluptuosas
que soterravam o inconstante coração; as areias
trepidavam como se ocultassem um vulcão.
Ao entardecer, banhei-me nas águas
mornas do lago umbilical,
contemplando as marcas permanentes
do procedimento iluminado.
Continuei seguindo ao sul…
E ao cair da noite, fiz uma cama na
entrada do túnel de pista escorregadia que dava
acesso às sensações mais extraordinárias.