Libertação

Guardei o grito contido

Acalentei a dor que rasgava-me

Transformei o estampido, o clamor

Em melodia aos meus ouvidos

Era preciso sentir-me viva

Guardei toda dor, como se guarda um tesouro

O mesmo que sangrava a alma, dilacerava

Era o mesmo que acariciava.

Por medo de nada sentir, do vazio que restou, de ser somente um corpo mapeado de vestígios

Projetei-me no meu proprio limbo

Fiz desta dor meu antidoto.

Despi-me do medo, te todo pudor

De sentir exatamente o que minh'alma sente

Dos falsos risos, do falso labor

Despi-me no secreto refúgio de toda alegria aparente.

Acostumei sim, todos os dias toco minhas feridas, entre lágrimas toco mais fundo pra sentir que ainda estou viva

No silêncio em minha própria companhia

Solto esse grito contido de dor

Vejo vida, vejo cor no sentir sincero transformado noa versos da poesia.

Pra mostrar que poesia nem sempre denota beleza, de flores e melodias

Poesia é desfazer-se,

Derramar-se em lágrimas que borram a escrita, poesia quase sempre...é a dor mais profunda da alma que geme.

Viro-me do avesso, de alma nua

Arranco de mim a dor que acaricia

Fiel a dor cortante e crua

Clamor escrito conscrito, no ardor da poesia

Dor que alimenta, que vicia, que grita em meus vazios...que talvez um dia, seja tão somente uma vaga lembrança do caminho pela alma, percorrido.

... que às vezes submete almas a condenação, também é vida e inspiração.