Socorro... alguém me ajude!!!
Devolta ao palco dos horrores
Hoje sem o copo à mão
Apenas uma corda com forca e um envelope com um papel em branco
Liguei pra ela de manhã cedo
Disse-me trémula e em prantos que vinha salvar-me
Espero que chegue antes dessas cortinas fecharem-se
Isso já não é sobre poesia nenhuma,
que se lixe o Augusto dos Anjos
Até porque nunca consegui escrever como um poeta mesmo
Que raiva!, queria tanto que este maldito sonho fosse verdade
Uma vez uma Pessoa disse-me que os poetas são fingidores
Quem me dera puder passar despercebido nesse palco da vida
Sem precisar de ser um incómodo com o meu funeral
Sem deixar memórias e corações na mão
Sim, a morte surpreende à todos
Nunca temos saliva suficiente pra engolí-la
Morrer...!? Diabo seja surdo, vire essa boca pra lá, pá!
Alguém disse-me assustada
Já basta o horror que escreves, miúdo poupa-me das tuas cantigas...
Mas à sério, cansei-me mesmo de encenação,
sinto-me sufocado, queria pular esse capítulo,
escrever um novo começo...
Esquece, puto esse teu drama já enjoa!
Outro alguém disse-me, mais farto do que eu ainda...
Então, penso que estamos de acordo,
é hoje que isso termina,
deixem-me descer desse palco,
não tenho jeito pra prosseguir a carreira de actor,
estou pronto pra ceder o meu lugar à quem quer que seja,
pensando em Rosa Parks naquele autocarro de 1955
A vida inteira é um conjunto de nada,
o pó de que somos feitos é só um sopro comparado com o ar que entra pela janela
Olhando para o tempo, já são quase meio dia,
e ela ainda não chegou pra salvar-me dessa.