Pés
Pés delicados, pés devotados tal qual um cão fiel
A um corpo que nem sempre os merecem, é cruel
São maltratados, apertados e levados à exaustão.
Trilhando por sendas incertas de pedra e aluvião.
Os pés são guias, refletem a alma e o corpo.
Pois o que os ferem atingem e rouba-lhes o conforto.
Muitas vezes nem se atina quanto à sua presença.
Somente quando lhes acomete um tropeço, uma doença.
Se os examinarmos de frente, de perto,
Veremos que sempre em estado de alerta.
Poderemos calcular os hábitos e a vida de seu dono.
Se sofre, se corre ou se a sorte também o abandona.
Podem designar tantas coisas diferentes e estranhas
como pé-de-moleque, pé-de-vento e pé-de-cana.
Os seguimos sem sentir, quases automaticamente,
Quando estamos tão confusos para raciocinar, tão ausentes.
Mas eles correm, caminham com grande perseverança
Em direção ao que planejamos, até onde os olhos alcançam.
Eles nunca nos trairão, e quando julgamos que é chegado o remanso,
Repousam suavemente sob a relva, mar ou campo.
Trate-nos bem, parecem pedir, nós lhe recompensaremos
Dizem: seu trajeto pela vida afora suavizaremos.
Pouco reclamam, pouco exigem nessa vida
Basta agasalhá-los no frio e poupá-los das feridas.