MAKTUBERFEST
Não quero as horas obscuras tecendo
Meu futuro inaugural qual aranha sem rumo
Nem me iludo esvanecido nem me aprumo
Sei que são nas horas passadas que estou morrendo
Tudo que deixamos para trás são cadáveres
Sem haveres sem coluna dorsal
O sal que choram por nós em lágrimas
São nossas assinaturas sem digitais
São essas pontes corcundas e carcomidas
De nossos ossos cajados que se inclinam rumo ao chão
Neste pilar de ossatura em desalinho e rígidas
Que nos equilibramos no corredor da morte...
Vamos deixando nossa vida pra trás
É lá neste murmúrio solitário
Que está nossa inescapável Alcatraz
Nossos casulos ancestrais
Demais cada dia vivido
É um diadema que usamos
Como seres humanos que somamos
E nossas rugas são rios lívidos
Que segregam ramos de idades
De uma videira que ramificou
Em novas criaturas que se assinam
Com o nosso DNA, rubrica da eternidade...
Depois de um certo tempo incerto
O tempo nos devora
No bico do ponteiro
É marcada a nossa hora daquilo que nos resta
Tão longe e tão perto o pacto desta promissória
Nesta hora funesta pouco importa a travessia ou o travesseiro....
Mesmo a morte é renascente
Olha a semente que aparentemente está morta
E que quando jogada fora pela porta, qual luz no candeeiro
Brota na terra como sangue novo na aorta...
E agora estamos todos mascarados
A liberdade do mundo triste masmorra
Na esperança dos olhos que ainda enxergam
Não nos cegaram a tinta de nossa retina
Embora esteja tudo cinza de um bolor esverdeado
Nossas lágrimas ainda que retintas
Perderam a cristalina doçura ao virarem
Canas pisoteadas e fermentadas de volátil cachaça
São secadas pela fruição da máscara usurpadora
Antes de serem provadas pela boca da mordaça...
E tudo passa só os abutres esfomeados perduram rindo
Um dia comerão a si mesmos e padecerão ainda famintos
E quando verem que nada mais plasmados faturam
Sentirão o hálito de sua própria podridão sem saliva os engolindo...