HISTERESE MAGNÉTICA

Sempre tem um jeito de eu voltar pra ti. Uma memória, um sorriso, um comentário.
A tua tinta é permanente - não sai dos meus tecidos. Tu manchaste meu coração de vermelho, meus dedos de ansiedade, minha boca de saudade, meus olhos de castanho.
Não me arrependo: não teria aprendido a ser humana se não fosse por ti. Às vezes, pessoas vêm e logo vão, só pra existir, revirar-nos, deixar do avesso e vestir assim mesmo. Sem vergonha. Até acharmos beleza no contrário e no outro lado.
Tu sempre voltas para mim. Parece que tuas poucas palavras se tornaram inextricáveis à minha língua.
Qual será teu gosto? Qual será teu cheiro? Qual será a sensação de ritmar o teu coração com o meu? Acho que, hoje, minhas pernas tremeriam e meus olhos brilhariam se eu chegasse a te encontrar.
Na real que eu sou imã. Sou magnetismo. Trago-te para perto, seguro-te, pesco-te, na necessidade de ser - ou ter - âncora. Meu alinhamento correto, reto.
Se tu também fosses magnetismo, eu seria Sul e tu Norte. Dependentes, inseparáveis como o princípio.
E na tentativa de escapar de mim, teu ferro esquenta, queima, embaralha-me, desorganiza. Teu calor me deixa confusa, desnorteada.
Mas é que, depois, tu esfrias e eu resfrio. E minha mente, retentora de tudo que te faz tu, memorial do meu amor por ti, arruma meu ser impecavelmente.
Meu alinhamento, mais uma vez, correto, reto. Teu.
Nessa histerese de dependência, eu me vejo perdida, mesmo tendo meu coração como bússola. Sinto-me perdida, porque tu já não és mais meu polo; mesmo assim, a agulha que pulsa no meu peito aponta para ti, meu caminho, meu Norte.
Marina Solé Pagot – 18 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 14/10/2020
Código do texto: T7087128
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.