Divina Descreve Carla
Uma vida encabeçada de amor
amor que no peito bate um coração
e sente dor.
Dor que alivia, mas não apaga as marcas
marcas que servem de instrumento
para não errar tantas vezes.
Erros que ela comete por ser humana
e acreditar que o momento certo é agora.
Momento que faz da sua pele vício
e a deixa extasiando de calor.
Ela extasia porque é mulher
e sabe o que quer e quando quer.
Mulher que trás no nome paixão
Patrícia bem dizendo
a quem ela não dedica ingratidão.
Paixão que se acolhe em seus olhos
castos, castanhos, olhos que acessam
a mente de quem a olha e deseja destrincha-la.
Destrincha-la é não prender os seus cabelos, é não enxugar suas lágrimas
caindo pela face.
Uma face neutra, tranquila e feliz
Face única com caracteres de aprendiz.
Aprendiz do hoje, do tempo passado
de um futuro que ela aprendeu a espera-lo.
Ela espera que a sorte a conduza, espera que na escuridão da madrugada vadios a respeitem.
Vadeia por que é fogosa, e a vaidade
faz do seu íntimo de menina um deslumbre para a visão alheia.
Deslumbrante para ela é acordar na praia fadigada de um lual com caipirinha e violão.
Fadiga para ela não é desânimo
é entrar em cena cambaleando com convicção.
Convicção que seu reflexo no espelho
é prova da sua existência sobrenatural.
Sobrenatural porque a natureza para ela
está acima dos elos entre os céus e o chão.
Chão onde ela alicerça o seu querer
paltando cada pedaço por mais saliente que seja.
Saliente é quando ela pinta os lábios carnudos, e solta a cabeleira vasta
que se liberta nos ares.
A liberdade ela tem como princípio, não meramente um requisito, mas um sinal definitivo.
Definitivo para ela é ser poeta e ninar os seus amores com seus versos quentes.
Quente é o sangue que a rega e faz dela
veneno cabal quando absorvido por vias proibidas.
Proibido é beber cachaça em taça de vinho e não rotular a aguardente.
Cachaça que embriaga a mente sã e
faz dela uma diva em noites de embalo.
Embalo que a faz sambar como mulata de escola que na avenida é luz a se espelhar.
Espalhar verdades e fantasias a deixa numa euforia de quem decidi tudo de uma só vez.
Vez que ela reconhece quando está amando
quando soletra seu nome e o introduz
na alma almejando ser feliz C.A.R.L.A.!
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CONSIDERAÇÕES: esse texto está perto de fazer 20 anos que foi escrito, e nunca publiquei. Esses dias relembrando na mente, resolvi publicar aqui no RL como prova da minha perplexidade pela coragem de falar tão naturalmente de mim mesma. Lembro-me que a época me inquietava escrever tanto sobre tudo e nunca ter lido algo sobre mim, bobagem de infante, quem escreve sabe quanto de si tem em seus textos. A verdade é que não imaginei que fosse conseguir me descrever tão profundamente, esse certamente foi um dos meus atrevimentos pertinentes de garota que levarei para toda vida.
CarlaBezerra