Mistura de cores

O Céu se coloriu para enfeitar nossa despedida. Não que fosse motivo para celebrar. Dentro de nós, havia lágrimas que já não podiam escorrer; havia o vazio que demoraria para voltar a se preencher; havia a dor do rompimento que, naquele mesmo instante, iria ocorrer. Mas o nosso amigo e confidente quis amenizar nosso sofrimento. Ele, que iluminava nossas noites com o brilho das estrelas. Que nos fazia despertar - se é que dormíamos - com o toque suave dos primeiros raios de sol ao amanhecer. O Céu decidiu que nosso último adeus deveria ser tão bonito quanto nossos melhores momentos. Quis pintar uma última gravura para guardarmos na memória. Misturou você e eu, em cores, e tingiu toda sua extensão. Seria nosso último pôr do sol, o mais esplêndido de todos. Aquilo que chamávamos de "nós" iria se pôr com ele, mas não voltaria a raiar. Naquela noite, o Céu guardou todas suas estrelas, em sinal de luto, e nunca houve um breu tão profundo. Por dias, o Céu chorou nossa separação. Quando estávamos juntos, tudo nele era mais intenso: o brilho do luar, o colorido do entardecer, seu azul magistral. Depois, passaram a reinar as nuvens, nunca alvas como a neve. Levou tempo para que o Céu voltasse a se colorir, para que deixasse o sol tornar a brilhar. Porém, depois que nossa conexão se rompeu, não houve um dia sequer em que o Céu ousou misturar nossas cores outra vez.

Dancker
Enviado por Dancker em 19/08/2020
Reeditado em 19/08/2020
Código do texto: T7039932
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