A ESCOLHA

Subo ao cume do meu pensamento e alcandoro-me num dos seus ramos que verga ao peso das minhas preocupações.

-Não vivas tão preocupada (um anjo me aconselhou) e ele continuou: As preocupações agravam as agruras da vida e a solução vem mais tardiamente. Aprende a sorrir e a viver despreocupada, coisas boas não tardarão a vir.

Segui o conselho do anjo, fui ficando cada vez mais leve. Confiante subi de novo ao cume do meu pensamento e alcandorei-me num dos seus ramos. Desta vez o ramo não vergou porque a alegria já me tinha tirado o peso de cima e a lucidez fez-me pensar melhor.

O anjo apareceu com um cesto de dinheiro e outro de sementes.

-Uma prenda pelo teu bom desempenho mas apenas podes escolher um. Escolhe com cuidado porque a escolha que fizeres vai guiar toda a tua vida de agora em diante.

Olhei atentamente, alternadamente e em conjunto, o cesto do dinheiro e o cesto das sementes. As moedas brilhavam num convite tentador. As sementes embora luzidias eram negras e modestas.

Eu disse para mim própria, presta atenção Jenny, nem tudo que reluz é ouro, pensa com sensatez e cuidado.

Ora o dinheiro é bom de gastar e outro não nasce. Se me habituo á boa vida, não quero trabalho. Neste caso o tempo de bonança é provisório. Se escolher o cesto das sementes posso usar uma parte para fazer farinha, outra parte para semear garantindo o meu sustento imediato e futuro.

Depois de pensar com cautela, chamei o anjo.

Já escolheste? Perguntou-me ele.

-Sim, não foi uma escolha fácil mas penso que fiz a escolha certa, escolhi as sementes e rejeitei o dinheiro. Gosto de ter os pés assentes no chão e tento não me deixar levar pelas aparências, pelo luxo e pela ganância.

- Fizeste a melhor escolha, acompanhei o teu raciocínio pelos meandros do teu pensamento e devo dizer-te que me sobressaltei algumas vezes receando que o teu bom senso descambasse para a insensatez e a luxúria mas aguentaste-te estoicamente e como prémio pela tua sensatez e sabedoria levas também o cesto do dinheiro.

Eu sei que o teu terreno é acidentado e pedregoso, vais precisar das patacas para fazer a terraplanagem a fim de poderes efectuar uma boa sementeira e garantir uma proveitosa colheita.

Agora digo eu, até nas escolhas nunca percas a humildade. Nunca te deixes deslumbrar pela ambição desmedida.

Aproveito para usar um ditado popular, nunca dês um passo maior que a perna.

©Maria Dulce Leitao Reis

Direitos de Autor 17/08/2020

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 18/08/2020
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