Caixa de lembranças

Peguei-me refletindo se chegou a hora de colocar nossas memórias em uma caixa de lembranças. Já não faz mais sentido ter essas fotografias espalhadas pela casa. Nossas recordações de viagens que fizemos ou faríamos - planos, tantos planos - estão ocupando espaço que já não lhes cabe mais. Aquele presente que você me deu, não me canso de olhar, mas as camadas de pó que se acumulam viraram lembretes de que nossa história já ficou para trás faz tempo. Nós ficamos para trás. Você ficou para trás. E eu, preciso seguir em frente.

Mas, veja bem, não vou descartar tudo que vivemos. Aprendi tanto, sorri tanto, chorei também. E nossas lembranças, doces, amargas, de todos os sabores, tiveram um papel importante. Fizeram parte do processo que vivi para me tornar quem sou hoje. Só que agora esse papel não pode mais ter tanto destaque. Existem outros personagens, novos capítulos, aventuras aguardando para serem vividas.

Então, como protagonista, percebo que é hora de me despedir dessas páginas que já começam a amarelar. Uma despedida com carinho, e é por isso que pensei nessa caixa de lembranças. Vou selecionar nossos melhores momentos, os mais intensos, os mais marcantes, aqueles que me ensinaram mais. E vou guardá-los, saudosamente, mas já distantes da vista.

Imagino-me criando um espaço lá no fundo do armário onde colocarei esse nosso repertório de histórias. E, com o tempo, talvez na correria do dia-a-dia, outras caixas e sacolas vão começar a esconder a nossa caixinha. Tudo bem, já era chegada a hora. Haverá novas fotos, novas aventuras, novos capítulos para decorar minhas memórias mais vivas.

E as nossas, lá, escondidas, quem sabe ganhem um novo instante de brilho quando eu resolver revirar meu armário. Não estarei sequer procurando pela nossa caixa. Vou encontrá-la por acaso. Nem sei se vou me lembrar de seu conteúdo. Então vou abri-la. E, ao olhar fundo lá dentro, darei um sorriso de nostalgia. Vou nos reencontrar, com doçura no olhar. Quem sabe eu até compartilhe com alguém nossas loucas histórias. Mas sei que a caixa novamente vou fechar. Outra vez ela terá que se resumir ao seu espacinho em meio à minha bagunça organizada. E meu sorriso? "Ah!" - direi - "Esse já não depende daquelas memórias faz tempo!"

Dancker
Enviado por Dancker em 07/08/2020
Reeditado em 07/08/2020
Código do texto: T7028433
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