Nossas boas conversas

Éramos tão bons em transformar tudo em conversa, e sempre das boas. De Platão a atualidades, mesmo quando não dominávamos o assunto. Dominávamos a arte de pensar, de refletir e compartilhar. E como era bom compartilhar nossas reflexões. Como era agradável encontrar outro alguém que pensava tão parecido. Que já tivera insights semelhantes. Que se importava com as mesmas coisas, aquelas que os demais achavam tão irrelevantes. Que pouco ligava para aquelas fofocas e manias de grandeza com as quais os outros desperdiçavam seu tempo. O tempo que chamávamos de nosso nunca era desperdiçado. As horas corriam, enquanto nós caminhávamos. Sem pressa, na tentativa de estender os minutos. Poderíamos passar anos caminhando e os assuntos não chegariam ao fim. Mas o fim do dia, esse, sim, chegava. E a linha de chegada era mais estreita que nosso sorriso, pois ele era tão largo! Nem queríamos mais largar um do outro. Mas essa história fica para outra caminhada.