Septuagésimo primeiro dia.

"A quarentena de um poeta"

Septuagésimo primeiro dia:

O sol saíra antes do meu levantar e secara o caminho para que eu pudesse fazer alguns exercícios matinais e expectorasse a leve secreção que me incomodara. Olhara para o céu e observara apenas as aves negras a sobrevoarem próximas às nuvens. As naves não trafegaram mais sobre as nossas cabeças e até o menino Asaph percebera.

O número de atingidos pela artilharia do inimigo chamara a atenção do mais potente do mundo que proibira a entrada de todos os passantes de nossa terra que quisessem retornar. Aquilo seria um sinal de alerta para que pudéssemos entender o quão era importante se dar a total prioridade a pauta da pandemia.

O fato de transferir a responsabilidade do afrouxamento da guerra para as pontas que administravam os pequenos lugarejos me fizera pensar que o povo pequeno estaria a fazer o papel da grande cobaia. Eu tivera o conhecimento que uma das minhas cidades vizinhas da baixada fluminense abriria o comércio. Pedira a Deus que cuidasse dos moradores que estavam a correr o risco de serem atingidos pela rajada de partículas do atirador que dera uma pequena trégua, mas que retornaria quando sua poderosa luneta lhe mostrasse a feira livre.

A mídia pecara em um assunto que me importunara, a insistência do caso político que envolvera uma fala inadequada do chefe. Os seus editores cometiam erros infantis na elaboração de perguntas absurdas a um exímio conhecedor da lei que se calara sabiamente durante a batalha a não externar suas verdadeiras convicções quando se encontrara no meio de alguns homens desenfreados que mal percebem que as rosas existem. A ironia figurara os mais plumitivos funcionários de contratos longos que tentavam encher linguiças a nos apoquentar. Contudo, eu ouvira algo que sempre estivera no meu pensamento: A pronúncia do médico relâmpago que dissera do seu total apoio ao isolamento seletivo que na minha visão seria coerente, mas impossível pelo número de testes por vezes de duzentos e dez milhões de habitantes.

Eu refletira que realmente não haveria culpados pela pandemia que por mais que houvesse estratégias, seria improvável vencê-la em curto prazo.

A audiência na guerra

Não há culpados na guerra

Existe o que a vitória tenta

O homem que cava a terra

E aquele que se apoquenta

No meio de tantos óbitos

A tela mostra a politicagem

É a matéria dos insólitos

A mais fria reportagem

Uma imagem que se distorce

Sem ajuste horizontal

É o esmagar da sociedade

Na escala vertical

Uma liberdade que se expressa

A somar pontos da plateia

Um assunto que não cessa

A balbúrdia da assembleia

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 25/05/2020
Reeditado em 29/05/2020
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