Sexagésimo nono dia

"A quarentena do poeta"

Sexagésimo nono dia:

Em mais um sábado sem shopping center e resenha das peladas, eu soubera que se batera o recorde de bilheteria do filme tão aguardado: "A tertúlia do 22 de abril". A sinopse falara de uma reunião em um quadrado cercado de garçons e câmeras a testemunharem as trinta e quatro palavras de baixo calão do chefe no meio de tantos desabafos e do confirmar da versão de um ex-oficial a mostrar a frase dita ao olhar nos olhos do acusado no momento da ameaça.

Os críticos através da imprensa bateram muito na tecla sobre a liturgia do cargo que não admite palavrões e os expectadores discutiram a dividirem mais uma vez no ataque e defesa do líder. O evento não alcançara a expectativa do público que esperava um final marcante com uma grande catarse para que se pudesse lavar a alma. Os personagens da realidade se sentiram à vontade como a Educação que chamara todo o supremo de vagabundos; o defensor da criminosa grilagem que contradizia o meio ambiente sugerira o passar da boiada a derrubar os troncos da mata; A Família afirmara que fora construído uma hipérbole de ações contra os que aprisionaram os marginais da sociedade; a Economia declarara com perfídia que atura o seu melhor comprador e que um dos nossos maiores patrimônios estava à venda; o condutor do encontro atingira o tucano e o juiz a chamá-los chulamente de bosta e estrume.

A bandeira fincada no terreno tivera as cores verde e amarela, com o brasão da família impresso no centro, o desenho de várias canetas revólver sobre o livro sagrado e representara o símbolo da soberania.

No final da sessão do dia passado, o próprio protagonista saíra do mundo da fantasia e revelara que houvera tiros de festim nas cenas exibidas a não feri-lo e que sua cabeça estivera a prêmio ao ponto de ser plantada uma armadilha em sua furna.

A tertúlia

Num encontro não secreto

Esqueceu-se a pandemia

E no lugar do mesmo teto

Prevaleceu-se a hipocrisia

A Economia soltava as letras

A querer a pátria vender

À boa freguesia fazer caretas

A colocar tudo a perder

Chorava o meio ambiente

Ao ouvir o "passa a boiada"

Era a fala do delinquente

O da conduta investigada

A Educação não dava o exemplo

A chamar o supremo de vagabundo

A apimentar o evento

Assistido por todo o mundo

O líder era o rei do esculacho

Que xingava os opositores

Ao riso dos capachos

E às piadas dos seguidores

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 23/05/2020
Reeditado em 24/05/2020
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