Sexagésimo sexto dia

"A quarentena de um poeta"

Sexagésimo sexto dia:

O desejo obsessivo do chefe estava a ser contemplado e criara uma expectativa do resultado da dicotomia: vida x morte.

“Quando se tem uma multidão sob sua responsabilidade, o optar pela vida é cuidar do outro e a recíproca se tornará verdadeira”.

A ressalva do processo de iniciação do uso da droga era a sua não eficiência, portanto, abria-se o caminho para os testes nas cobaias que caso sobrevivessem, não se saberia a verdadeira razão. O protocolo das letras de fonte miúda era como a retórica dos falsos médicos do velho oeste americano que ofereciam os óleos de cobra milagrosos para a cura de qualquer tipo de mal. Nunca fora de praxe a assinatura de uma permissão para um enfermo ser medicado, salvo a imensa periculosidade do procedimento. Pacientes que foram golpeados levemente autorizaram a ingestão da droga e não se soubera naquele tempo de guerra a sua eficiência, mas sim a certeza do risco de morte, pois mesmo com reestabelecimento do indivíduo nunca se soubera a verdadeira causa do recobro da saúde.

Naquele ínterim, uma personagem feminina contradizia a arte confinada: uma viúva a posar ao lado do fantasma de seu companheiro representava a pobre menina que sentira saudade dos seus a abandonar o cenário. A cultura que estivera inerte durante a peleja, não precisava ser o foco das atenções, bastara a antítese de ser somente a expectadora da arte da guerra.

A literatura explodira a narrar os fatos em prosa e a traçar estrofes da natureza que descansara dos ataques nocivos do homem; o teatro silenciava e o seu palco dava lugar a escuridão; a dança e a música eram companheiras solitárias nas varandas, nas salas, nos quintais; a pintura não poderia se exibir nas galerias dos nobres; a sétima arte alcançara temporariamente o seu destino a invadir as Salas Vips domiciliares através das fibras e a escultura ou a arquitetura estava a lapidar o busto do anti-herói, o trovador das cantigas de escárnio.

A oitava arte

A arte é intocável como a lua

Que se movimenta lentamente

O intérprete da tricotomia

No mundo semiótico da mente

Há a arte do sarcasmo

Nas cantigas do trovador

Na pintura do asno

No cantar do ator

Há a arte da ironia

Nas máscaras de pano

No grafar da poesia

Na escultura do insano

Há a arte dos cenários

Nas montagens do tema

Na escolha dos templários

No teatro da cena

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 20/05/2020
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