Quadragésimo oitavo dia

“A quarentena do poeta"

Quadragésimo oitavo dia:

A manhã de sol do segundo dia do mês das rosas me apresentara a beleza de Maria. A palmeira do quintal alcançara uma altura de dois andares e suas penas sombrearam as minhas vestes estendidas no varal pelas suas mãos preciosas que se estendera na ponta dos dedos a mais uma vez me seduzir. As plantas dos seus pés descalços sobre a poeira do revestimento áspero do piso aumentara a sua imunidade e fortalecera as batatas das pernas que eu tanto apreciara. Eram tantas as roupas de uso de nossa quarentena e lento era o seu movimento de se agachar e se levantar a parecer uma dança do gueto. A cada mobilidade sua, eu que balançara na rede frente a parede de chapisco do seu quarto, deleitara-me.

Oferecera-me para ajudá-la e seu sorriso me respondera que eu não poderia invadir o palco onde a diva estivera a atuar. Era um pequeno cenário, todavia tivera uma grandiosidade de enredo em uma dança sedutora para um único expectador. Cada olhar de Maria me fizera esquecer a guerra e subira para o terraço e entre os balaústres fotografara seus trejeitos femininos que revelara suas intenções. O soltar de seus cabelos negros que combinara com a cor de sua pele encerrara o seu ato e eu me pusera a tateá-la. Ela estava a se intocável, eu poderia apenas apreciá-la. Este era o castigo do trovador que voltara ao romantismo a idealizar a mulher sem poder usufruir de sua beldade.

Eu implorara ao sol que antes a iluminara para logo se pôr e deixar somente para mim os instantes de amor.

Em síntese, o dia terminara com a ruptura da fantasia e Maria se entregara definitivamente a meus braços.

Eu e o sol

Semiaberta a janela do seu quarto

Os raios do sol estão a te despertar

A varrer tão delicadamente o seu rosto

É a natureza a te tocar

Sempre aberta a porta do seu quarto

Os meus raios estão a te tatear

A passear tão levemente em seu corpo

É a realeza a te aliciar

E quando abres os olhos teus

Há duas coisas a te desejar

Eu e o sol, o sol e eu

Os dois somos amantes seus

O que te venera,

Que não te abandona jamais

E o que se põe

A te fazer chorar na beira do caisy

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 03/05/2020
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