Quadragésimo quarto dia
"A quarentena de um poeta"
Quadragésimo quarto dia:
O sol quente adentara pela treliça da janela de madeira do meu quarto e me despertara. Eu olhara a paisagem do quintal e vira a esperança em uma flor que brilhara a me apresentar um novo dia. Eu vira Maria na beira do tanque a assobiar uma bela canção de amor.
O dia anterior fora de flores murchas sobre a terra de repousos e lágrimas de sofrimento.
A flor da ixora atraíra as borboletas que vieram buscar seu mel, rico em proteínas, e voaram em torno do jardim a me cumprimentar.
A minha paz retornara e dera conta que Deus estivera a me poupar. Eu fizera a barba e ajeitara o cabelo que crescera a lembrar a cabeleira de seu Edison que fora aliviado de assistir à esta grande catástrofe.
Era necessário que minha aparência fosse saudável para que se calasse o choro dos meus filhotes. Ensaiara uma live e me apresentara como uma coruja da grécia antiga que durante uma batalha sobrevoara sobre os seus soldados a lhes garantir a vitória.
A certeza que eles estiveram bem aumentara a minha imunidade e me considerara apto a continuar a viver com a dádiva de ver uma criança sempre ao meu lado a fazer peripécias que mudaram o rumo da minha história. Asaph personificara tudo, a sua barriguinha dissera sempre para Vó Alice que estivera com fome de danone, o seu dedinho queimara quando eu acabara de fazer sua pipoca e a culpa fora do teimoso polegar que antes lhe alegara que pudera tocar na panela, os carrinhos reclamaram da intensidade da rampa improvisada pelo pequeno engenheiro e suas pancadas nas paredes, a bola de futebol se queixara da patada atômica a Rivelino que recebera constantemente toda vez que eu tentara lhe ensinar alguma jogada e outros tantos brinquedos, segundo o peralta, eram como o grilo falante.
Viver aquele mundo fantástico de Asaph alimentara a vontade de voltar no tempo. Em determinado dia a pedido de uma nobre docente eu fizera um texto em ode aos pequeninos seres do gueto que abraçaram as pernas do poeta durante a sua jornada a pedir poemas:
Como "Tistu, o menino do dedo verde"
O que eu queria ser?
Eu queria ser como o menino do dedo
Que transforma tudo em flores
Pra chegar na escola bem cedo
E tocar nos meus professores
Uma rosa irá me ensinar
A escrever uma história encantada
E o cravo a me fazer decorar
O conteúdo da tabuada
E o beija-flor será o diretor
Da escola que virou jardim
E me chamará depois de doutor
Pairado no ar sobre mim
E nos tornaremos anjos do amor
Pra quando houver necessidade
Desceremos em nossa cidade
Pra transformar a arma em uma flor