Quadragésimo terceiro dia
“A quarentena de um poeta”
Quadragésimo terceiro dia:
Fora o dia mais triste, pois eu tivera notícias de amigos falecidos e feridos.
Caminhões frigoríficos não anunciaram a chegada da carne, o meio de transporte se estagnara em frente aos hospitais e recebera cadáveres a nos deixar espezinhados com a cena. Qualquer calafrio, tosse e outros sintomas rotineiros nos levaram ao pânico e Maria se achegara e me abraçara a perceber o meu melancólico momento que não seria pelo romantismo, mas por assistir ao trucidar. Os infectologistas alertaram a cada dia como proceder diante da mazela. Uma paranoia se instalara em minha cabeça a imaginar não pertencer mais ao mundo que eu programara. Um telefonema levantara o meu astral, era a voz de Raisa.
A terra explorada que antes pertencera aos indígenas fora a mais atacada pelo invasor que não penetrara na mata atlântica, entretanto aniquilara os miscigenados homens da cidade que em estado de calamidade tiveram dificuldades de enterrar seus entes. O nativo da floresta que não tivera contato com o homem branco ficara imune, pois o seu distanciamento social era o exemplo de que seria a mais possante arma de defesa contra os disparos de canhão.
O colapso do sistema funerário fizera uma família se apoderar de pás para enterrar um parente e a falta de caixões mostrara a velocidade que o inimigo atacara.
Não houvera raça e religião que fossem poupadas do maligno criminoso que alcançara o seu objetivo através da ignorância dos povos.
O cacique liderara com a sabedoria de seus ancestrais e a cada ritual clamava para que o criador interferisse a preservar sua gente e se humilhara diante do inimigo que mesmo de longe era uma ameaça. Outro exemplo que deveria ser seguido pelo grande chefe "Cabelo Amarelo" que se importara apenas com a sua genitura.
Os decretos foram ignorados, da forma que indivíduos folgados sentiram dificuldade de cumprir as regras. Eles se acharam espertos a pensar que poderiam se desviar do adversário que com um golpe aéreo os deixaram
contaminados.
O sábio povo
Não faço parte desta sociedade
Não aceito suas vozes
Que são ditadas do alto
No som dos chicotes
Pertenço ao meu eu
Que me concede a mata
Aonde viajo a cipós
Com minhas vergonhas de fora
Sem vestes ao tempo
Espero a chuva de vento
Que me leva ao topo
De onde a vejo a minguar
A aguardar a arca ...