Quadragésimo primeiro dia
"A quarentena de um poeta"
Quadragésimo primeiro dia:
A quarentena fizera eu entender que os pássaros observaram o nosso movimento. Após tantos dias o ninho instalado entre as telhas romanas da sacada fora como uma manjedoura a receber o par de filhotes da rolinha-roxa que caminhara sobre o piso da varanda a não se importar com a presença de Asaph do lado oposto.
A candura de uma criança era como a inocência das duas crias que ainda não sabiam voar e pousaram lado a lado no parapeito frente a minha janela. O seus peitos estufados mostraram a prepotência de suas imunidade e eu do quintal observara uma dupla de passarinhos inseparáveis como gêmeos siameses unidos pelas asas que estivera prestes a levantar voo.
Asaph ficara curioso com pequeno reino animal e temera a matriarca que não o deixara se aproximar. O menino sapeca parecera tentar se achegar aos passarinhos e logo vinha a mãe protetora a bater fortemente suas asas a emitir o som de retirada.
Eu higienizara as minhas mãos na área de serviço quando ouvi uma saldação a vir do alto:
-Vovô Pico, oia! Oia a rolinha.
Eu presentira algo mirabolante iminente e falara:
- Asaph, não pode tocar nos filhos da rolinha, senão ela vai te atacar protegendo os dois.
- Está bem Vovô, mas como eu vou passar.
- Se abaixa e vai se arrastando até chegar a porta.
Asaph fizera por instinto o papel de um soldado bater em debandada e silenciosamente conseguira ultrapassar a linha de perigo e desceu as escadas em disparada as raspar a sua cabeça na minha estante de livros a gritar:
- Vovô Pico, eu consegui escapar do perigo.
Asaph
O meu chegar o desperta
A correr a abraçar as minhas pernas
A tentar alcançar primeiro
Em desespero, o meu topo
E o escala a enfiar suas garras
Na goma do meu suéter
Enquanto seus pés
Deslizam sobre o meu tronco
Sinto o aroma do leite
A encharcar sua pele suada
De tantos tiros rasos
Antes da minha chegada
E cedo o levando ao meu cheiro
Ao meu deleite
E o dia se completa
Com o gesto da sua cabeça