Trigésimo quinto dia

"A quarentena de um poeta"

Trigésimo quinto dia:

Estivera perdido no tempo, o dia era como um semanal qualquer, as ruas estavam desertas próximas a minha residência e parecera que o óbvio estava a ser vislumbrado.

Arriscara dar uma caminhada em volta do quarteirão e temera pelo inimigo que poderia estar no ar através dos aerossóis, mas eu voltara como um covarde vivo.

A área de trezentos metros quadrados que continha duas casas era o meu porto seguro. Eu deveria continuar a andar em volta da morada e decorar as manchas das paredes dos muros e contar os quadrados do piso de ardósia.

Apesar de me sentir protegido em companhia de Maria e os seus, houvera o tédio a fazer o tempo correr mais lento com recados de morte. Existira uma curva que ainda estava a subir e eu pedia a Deus que a descesse logo para poder me jogar no meio da multitude.

A origem do inimigo brutal ainda estava sendo discutida no tribunal da ganância que colocava o valioso réu solto sob fiança. Não houvera provas concretas e o acusador à longa distância não abrira mão da guerra política ao mesmo tempo que seus membros padeciam.

Se houvera um lançamento de um míssel biológico em direção à poderosa América, infelizmente respingara em nós os rezíduos que matam.

O restante do ocidente também fora atingido impiedosamente e nada fazia cessar esta guerra fria. Nascera um monstro inespoliado que se sentira à vontade em qualquer parte do planeta a aniquilar os patriados.

O pangolim era mais um animal injustamente a ser colocado na lista dos vilões. Um dos mamíferos asiáticos mais traficado do mundo tivera suas escamas super valorizadas depois da redução do comércio proibido de marfins no continente do acusado.

O inimigo surgira da escuridão de um lugar invisível que abriga um exército de invasores prontos a atacar a sociedade do espetáculo:

O mundo é um espetáculo

Os nossos olhos são a plateia

Diante da luz dos diodos

Os artistas, uma alcateia de lobos

Assistem-se ao escarcéu

Sentados diante da mesa

E no fundo do prato

Comida e tristeza

Não há mais sentido

tragédia sem catarse

comédia sem risos

não nascem sisos

Ao redor do haveres

Protagonistas dos azes

Seres da mesma espécie

Como canibais vorazes

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 20/04/2020
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