Vigésimo nono dia

"A quarentena de um poeta"

Vigésimo nono dia:

Alguns homens nasceram acorrentados e vivem desde então postados diante de um paredão a ver somente suas sombras. Não conseguem enxergar nada além dos seus limitados conhecimentos, a penumbra e seus movimentos. Os que conseguem desatar-se das correntes veem o mundo diferente e quando tentam socorrer os apegados, são chamados de loucos.

Essa reflexão que eu criara em alusão a um pedacinho de uma grandiosa obra filosófica da antiguidade mostrara o corportamento casmurro dos indivíduos que se escodiam na caverna, mas viviam a criticar o isolamento.

Os que tinham coragem de descumprir as regras eram os mais perigosos, pois cometeriam um delito culposo pelo simples idealismo de seguir os que não se sacrificariam suas finanças.

A perda financeira seria passageira e a fome nunca iria alcançar a classe exploradora que jogara contra a paralização a priorizar o seu capital a esquecer que o dinheiro não compra suas próprias vidas.

O individual estava a ser muito relevante para o coletivo na peleja a formar um paradoxo não recíproco, pois se um cumprisse o regulamento, muitos ganhariam, entretanto se muitos desobedecessem as normas, o um não seria protegido e em modo exponencial vários perderiam.

Uma das armas do inimigo era a retirada de algumas das sensações dos cidadãos e para vencê-lo era necessário a união. Uma unidade seria transformar o todo em um para que se pudesse desviar dos tiros a esmo.

Uma dubiez na análise da guerra era outra vantagem do inimigo, de forma que o general de um ponto estratégico avistava o bando oponente ir embora e os seus oficiais o via camuflado. Nesse momento, a área gigante era cercada e ainda não se sabia quem venceria o confronto.

Arbitrariedade

Nos becos do território negro

Nas vielas das comunidades

Não obstante haja arrego

Tiros haverá à vontade

É a ordem do déspota

Que senta no trono

E do céu está a definir a rota

A ferir os direitos humanos

São mortes divulgadas por dia

Uma contagem errada

Há as dos passageiros da agonia

E das promessas mutiladas

O que esperar do iletrado?

Que decora os estatutos

Que jura cumprir a lei do Estado

Que se diz absoluto

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 14/04/2020
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