Vigésimo segundo dia

" A quarentena de um poeta"

Vigésimo segundo dia:

Era necessário uns exercicios para que minhas articulações se fortalecessem e dei partida a uma pequena caminhada em volta da casa. O muro à direita amarelo canário que separara outro personagem da história dos vovôs era manchado de cinza por causa das chuvas que corriam sobre as cumieiras.

Asaph me fizera companhia, todavia não perdera a mania de liderar a prova e partira com sua marcha atlética a dois metros de distância do velho jogador de pernas cansadas que mantivera o seu ritmo:

- Vovô Pico, olha, olha um amor.

Ele avistara o desenho assimétrico de um coração desenhado na parede de sua destra pelos pingos d'água da natureza. Era um coração e o sapeca dizia na volta seguinte ao encostar seu dedinho indicador na figura:

- Olha, olha Vovô Pico, esse é você e esse sou eu.

Não tinha como não segurar as lágrimas, minhas pernas tremeram de emoção, mas como um grande guerreiro a sustentei e dei continuidade à andada.

- Vovô Pico, não vou mais fazer o percurso.

Eu admirara o seu vocabulário e sua concordância, e o vira entrar na cozinha de Alice a querer um copo d'água. Passou-se alguns minutos e novamente entrara na minha frente aquele pequenino atleta a marchar e antes que completasse o "percurso", ele disse:

Vovô Pico, eu vou pra sombra.

Logo em seguida, houvera uma ruptura do nosso momento.

As coisas não iam muito bem do lado de fora, a teimosia era visível no trânsito de pessoas a circular pelo centro da cidade enquanto outra guerra acontecera nos bastidores do planalto. Ameaças eram feitas publicamente em oposição a mãos que poderiam ser dadas em prol da causa.

Uma outra rompedura do meu movimento fizera Maria à tarde. A patroa me imcubira de fazer uma limpeza na caixa de gordura e o meu fiel colaborador observara a minha destreza ao retirar o chorume sem lambuzar-me.

Ele me acompanhara até o portão e pela primeira eu teria que enfrentar o inimigo, mas cheio de astúcia esperei a rua completamente deserta para percorrer apenas cinquenta metros para jogar a água negra no lugar descampado e parti ao ouvir uma voz aguda a dizer:

- Vovô Pico, cuidado com os carros quando atravessar a rua, Vovô.

Mais uma vez eu tremera na base e seguira em frente.

Ao retornar com o balde vazio, outro grito de guerra:

- Vovô Pico, corre, corre, você consegue.

Pus-me a arrancar em disparada ao seu encontro enquanto o seu rostinho diante da fresta do portão fizera uma festa com a minha chegada.

"Tu, amor

És como uma rosa que é suave e ao ser fragmentada, maltratada, suas pétalas ao ar o vento trata de separar para sempre. És como uma criança que é pura e ao ser machucada, fustigada, sua inspiração o tempo trata de apagar para sempre".

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 07/04/2020
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