Vigésimo dia

"A quarentena de um poeta"

Vigésimo dia:

As aglomerações enriqueceram os que estão seguros e que fecham os olhos para a pobreza. Os estádios cheios e as arenas de shows patrocinado pelo povo apatacaram os bolsos dos ilhados. Entretanto, nesse tempo de quarentena, pobre ajuda pobre a tentar se salvar a doar tempo e nutrimento.

Eu pintaria um quadro no estilo totalmente barroco a retratar assimetricamente o gueto de minha cidade, os imunes moradores de rua a receber a quentinha das mãos caridosas. Todavia, não mancharia as minhas mãos a reproduzir numa tela clássica a simetria de Giocondas.

Eu poderia parafrasear o grande poeta do Brasil colônia, Gregório de Matos que possuía a alcunha de Boca do Inferno a dizer:

Soneto Caíba

Neste mundo é mais rico, o que mais assalta:

Quem mais limpo se faz, é o que mais defeca:

Com sua língua ao nobre o pobre seca:

O velhaco maior sempre tem fachada.

Mostra o patife da nobreza a carta:

Quem tem mão de agarrar, ligeiro peca;

Quem menos falar pode, mais seca:

Quem dinheiro tiver, pode ser Magnata.

A flor baixa se inculca por caíba;

Bengala hoje na mão, ontem plaina de peroba:

Mais isento se mostra, o que mais cuba.

Para a tropa do trapo vazio a riba,

E mais não digo, porque a Musa aboba

Em aba, eba, iba, oba, uba.

Chegara o momento de deslembrar dessas coisas e voltar a outra realidade, o meu bem estar com os meus naquele lugar era muito precioso e de repente Asaph chutou a bola em minha direção e pus-me a fazer embaixadinhas a tentar colocar a pelota sob o domínio de minhas costas.

Este domínio a gente não esquece, é preciso dominá-la primeiro como uma égua selvagem para depois conduzi-la. Essas coisas ajudam a espairecer, pois a guerra ainda não acabara e a ansiedade deveria estar sob controle.

Alguns amigos comentavam uma postagem que eu havia publicado e me senti lisongeado a pedir a Deus para que depois que a tormenta passar, dez minutos apenas:

Dez minutos

Dez Minutos é o tempo que peço

Para disputar uma partida

com direito a trio

em um estádio do Rio

Para ouvir primeiro:

- Cara ou coroa

- O campo ou a bola

Consultar o meu goleiro

E ao soar do apito

quando a pelota rolar

com minhas pernas morgadas

saber trotar

Uma chance pra tê-la

Dominá-la no peito

saber protegê-la

e entregá-la ao meu DNA

Mesmo que não a dome

uma coisa eu sei

darei um corta-luz

como a jogada do Rei

E lá do céu

ouvirei os aplausos

dos meus amigos boleiros

inclusive os de um goleiro

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 05/04/2020
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