Décimo sétimo dia

A quarentena de um poeta

Maria não pôde se levantar da cama, pois houve excesso de atividades domésticas nos quinze dias que se passaram e como não tínhamos a nossa fiel empregada, a grande guerreira contraíra uma dor lombar devido a muito esforço e foi necessário a volta de Betânia que se solidarizara com o momento e viera como nossa guerreira salvadora a nos apoiar.

E o tempo foi passando, as opiniões estavam a mudar, pois crescera o número de atingidos letais e dos sobreviventes marcados pelo medo.

Ali, naquele lugar, estava a clamar pelos meus. Temeroso eu estava a acreditar que o pico de todo o impacto da pancada que nos atinge ainda não começara. Que ser poupado seria uma dádiva de Deus, pois era a sua vontade de querer ouvir meus cantos, dar-me puxões de orelha e me guiar como sempre no sentido horizontal.

À tarde, tivera vontade de comer mingau e Bê o preparara com tanto carinho que pus a me desabar.

É a sensibilidade de quem volta a ser criança, a querer brincar de "pique tá" e correr com toda velocidade do "João do Pulo" a saltar os óbices para poder primeiro chegar.

Mas durante à noite, a temperatura baixa me fizera agasalhar-me no cantinho da sala a assistir reprises e a única programação inédita era a notícia do crescimento dos decessos, o que me fez ficar mais concentrado em Deus que é como o tempo:

O Tempo, sempre Ele

A me ensinar, a me fazer esperar

O Tempo comanda a minha história

Escreverá o meu epílogo, o meu desfecho

O Tempo às vezes é cruel

No entanto é a sua forma de me cuidar

Quando nada cai do céu

A me sustentar

O Tempo é Alguém

Que controla minhas fantasias

É aquele que acelera o meu pensamento

E quem me traz de volta

O Tempo é um prelúdio da vida

Que me segue a me envelhecer

A me mostrar que é seu o poder

É seu o malhete

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 02/04/2020
Reeditado em 02/04/2020
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