Quinto dia
"A quarentena do poeta"
Quinto dia:
O sol retornava a me cumprimentar e trazer benefícios para o meu organismo. Eu fazia um histórico do meu estado atual de saúde a me iludir, a estar enganado em me sentir privilegiado e talvez escudado contra este inimigo invisível, pois não era hipertenso, diabético, fumante e outras coisas.
Contudo, estava disposto a manter meu físico saudável e vivi à tarde uma bela história:
Asaph
Havia lá fora um grande perigo e eu estava sitiado em minha casa a respeitar a quarentena. Necessitava ter todos cuidados por pertencer a um grupo de risco, mas não posso deixar de narrar a inocência:
Precisava exercitar meus pulmões e no espaço corredor do quintal eu caminhava vinte metros e retornava no pique tantas vezes até ser interrompido pelo velotrol estrondoso daquela pequena criatura a vir disparado na contramão em minha direção a me fazer desviar sobre sua cabeça. O moleque serelepe, que recentemente
acabara de completar quatro anos, ao avistar minha atividade disparou seu desejo:
- Vô Pico, deixa eu brincar contigo também.
Não pude resistir àquele pequeno e destemido ser e o convidei a disputar uma corrida.
Na linha de partida eu contava até três e ao partir o via a dois metros de distância se antecipando a largada e em forma de zigzag impedindo a minha ultrapassagem a chegar
inúmeras vezes no portão de ipê que recebia a pancada de campeão.
Seus gritos chamaram a atenção de Alice que ao se aproximar, ouvia:
Ganhei de novo!
Tive então a ideia de quebrar aquela hegemonia e impus uma arbitragem. Alice daria a partida para impedir que o espertinho não queimasse, mas mesmo assim o que se via era os pulos de alegria do pirralho.
Cansado, sugeri a última corrida e antes do tiro inicial, apontei para o céu e falei:
Olha lá um navio!
O pequeno piloto perdeu os seus preciosos segundos para procurá-lo o que o deixou para trás a fazer com que eu vencesse pela primeira vez.
A derrota não foi bem recebida e ouvimos um barulhento desmonte do triciclo e tentamos explicá-lo sobre a importância de saber peder e vimos Asaph erguendo as duas rodas a segurar pelo eixo e a simular um haltere a dizer:
Vovô Pico, quero ser forte igual a você.