Quarto dia
"A quarentena do poeta"
Quarto dia:
O tempo fechou e ao levantar da cama improvisada na enorme sala do lar de Mesquita, assisti o pássaro canoro a se proteger apenas da garoa entre os galhos de uma àrvore do quintal.
Gostaria de sê-lo para voar em direção aquela pequena vila de um bairro da zona oeste da cidade maravilhosa para pousar sobre a telha romana que cobre o aposento de Duda e cantar:
Maria Eduarda
Na madrugada fria de junho
Esperando Eduarda era Copa do Mundo
O mundo orava em silêncio profundo
Pela chegada de Maria, era madrugada fria
Maria Eduarda chegou, rolou a bola
No estádio do meu coração
Comprei uma cadeira cativa
Pra não perder a emoção
E a bola rolou do outro lado do mundo
Onde se ouviam as vuvuzelas
E no colo da Barra as cornetas soaram
Anunciando que era ela, Maria Eduarda formosa e bela
Maria Eduarda chegou, rolou a bola
No estádio do meu coração
Comprei uma cadeira cativa
Pra não perder a emoção
Voltei a realidade e especulava a ideia de que podíamos estar preservados devido ao nosso clima tropical, todavia isto seria apenas a corrente do positivismo estando a percorrer em minhas veias.
Discutíamos entre nós sobre a catástrofe e todos concordávamos que havia muitos atrasos nas decisões tomadas pelos nossos governantes, tentávamos ser coerentes com as nossas opiniões e no final dos nossos debates, nossos olhares se cruzavam a querer o enlace, contudo mais uma vez sabíamos que o não contato era fundamental para a nossa supervivência.
Os informes chegavam em disparadas a anunciar o primeiro óbito e chorei em silêncio pela nossa nação e logo após recebi o telefonema de minha cria que implorava para que eu não saísse de casa, o que me fez repetir minhas sensações.
Ao anoitecer, enquanto sob a ducha fria eu me higienizava, meditei:
Chuva de flores
Se flores caírem sobre mim
Talvez seja um banho da sorte
Ou chegara a hora da morte
Pois houvera o começo ou o fim
Se for pétalas de girassol
É o desejo de rosas
Mas se for uma coroa de flores
É o remate do meu livro de prosas
Que sejam as flores do quintal
A cair sobre mim
Todo o fim de primavera
Do seu canteiro de jasmim
Sob a chuva de flores belas
Brancas, rosadas, amarelas
A que mais me aroma
É você, a flor do poeta