Terceiro dia
"A quarentena de um poeta"
Terceiro dia:
Eu já me sentia tenso após uma noite quente em que minha semi-nudez não impedira o suar intermitente do meu corpo isolado de Alice. Durante o jornal da manhã, assentado em minha poltrona a tomar meu café amargo, eu viajava no tempo depois de ouvir o perigo prestes a adentrar em nosso abrigo.
Ao acordar, Alice já sabia de minha renúncia em beijá-la e de longe jogou apenas um sorriso de bom dia.
Era o momento de abandonarmos o apartamento que recebia a maresia e partirmos para a nossa casa situada no local mais quente do Estado.
Ao entrarmos no elevador, aquela parede de aço quase nos levou a pânico, pois havia marcas de pequeninos dedos espalhadas pelo seu interior.
O trajeto era feito de forma minuciosa e observávamos ainda pessoas mantendo suas rotinas, o que me deixou aflito, pois o dito não estava sendo obedecido.
Enfim encontrei a paz na inocência de uma criança que correu para os meus braços a me fazer desprezá-la antes de tomar um banho no chuveiro do quintal.
A tarde fora de expectativa pelo andamento da curva que se iniciava em nosso mundo. Um mundo que se tornara um gelo:
O Mundo é um Gelo
O mundo a violentar-se a cada segundo
Com ajuda do vento que vem do norte
O mundo a mutilar-se gélido e sopeso
Um gelo seco a refrigerar a morte
A morte é fria como o sangue
Que circula nas veias dos abjetos,
Dos papudos insetos frios
E da astuciosa gangue homicida
Frieza que mata os sonhos reais
Uma geleira na alma alheia
Vivalmas geladas a ostentar
Com minas de vintém alheio
O mundo é um gelo ...