Segundo dia

"A quarentena de um poeta"

Segundo dia:

Os meus braços não alcançara Alice naquela manhã quando despertei de um leve sono. Eu imaginava a cidade vazia com suas ruas desertas, mas o que assisti na televisão foi o descaso dos patrões que exigiam a presença dos seus funcionários a gerar um caos nos meios de transporte. Fui obrigado a comprar um produto na farmácia localizada a cem metros do meu lar e tive a mesma dificuldade rotineira de atravessar a estrada, pois havia diversos carros transitando rumo ao centro da cidade.

Encontrei no estacionamento ao voltar um sinhozinho com uma caixa de ferramentas a consertar seu automóvel e pessoas com trajes fitness a iniciar suas caminhadas e trabalhadores a podar as belas pequenas árvores do condomínio. Eu gostaria de poder avisar o quão seria arriscado aquela exposição à coisa que já se encontrava localizada. Talvez um megafone resolvesse o problema ou um broodcast nos celulares fosse uma maneira de repetir o grito ambíguo de minha mãe:

"Meninos, vistam a camisa e entrem, pois podem pegar uma peneumonia".

Seria impossível qualquer tentativa, o jeito era esperar que o senso comum das pessoas as fizesse entender que todos estavam diante de um fato social patológico que segundo um dos três pensadores clássicos da sociologia atinge grandes dimensões a ameaçar a sociedade.

Apertei tenebroso o botão do elevador e quando adentrei no meu apê, lavei literalmente as minhas mãos:

Um fato social que chama a multidão

Um poder de coerção sobre os homens

Que aceitam a troca

E nos impedem de ser contra

Há outro acontecimento

Este, doente

Que se aproveita do momento

A persuadir os idólatras

A usura quando vier

É tão elevada quão a renda

Outro fato social normal

Que do homem se alimenta

E o déspota literalmente veste a camisa

E a umedece de grãos destilados

A se misturar com o suor castiço

A contaminá-lo de corrupção

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 28/03/2020
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