Terá que Ser a Gente
Não há outra maneira. Não será outro que poderá varrer a casa, realizar a busca e apurar o porquê do estar na Trama, vida.
Passear em meio as tranqueiras e relíquias, abrir as janelas para entrar um ar, colocar vasos de flores sobre a mesa, plantar e regar o jardim. É de nossa única e exclusiva responsabilidade.
Terá que ser a gente, mesmo que outro nos carregue, dê a muleta, o banho, arrume a cama e faça a comida, até mesmo colocando-a na boca.
Sempre será nossa, de exclusiva responsabilidade e risco, a tarefa, aquela de dar o primeiro passo em direção a porta que dá para dentro, que aguarda ser aberta, e assim, libertar os eus que se alimentam um do outro, brigando para manterem liderança e atender o gosto, nosso e do mundo.
Não restará outra alternativa, quando a solidão bater, a visita não chegar, o afeto não corresponder mais à altura, o feedback do mundo não vier, o silêncio confrontar, sem poder fugir para a distração, e a gente ficar.
Teremos o conselho de milênios nos espreitando, soará baixinho, como vento ao final de tarde entrando pela janela entreaberta: “Se pegue pelas mãos”, haja!
Terá que ser da gente a coragem, a gana, a honestidade para ver dentro. A casa é nossa, teremos que morar nela indeclinavelmente, e gostar.
Teremos que desmascarar os fantasmas, demônios, anjos e deuses que criamos para dar nome à insignificância que elegemos para não viver. Tem que ser por nós mesmos, tirar do altar um a um, pai, mãe, desafetos, amigos e inimigos que idealizamos como culpados por nossas infelicidades e frustrações.
O desenho finalizado, conosco no mundo, depois dos traçados serem feitos por nós, com os lápis de cor as mãos, e o papel, realizando o significado.
Circo, personagens e fantoches, passeamos em todos, experimentamos todos e deixamos-os irem.
Até que perdemos o medo de entrar nos mistérios, e dele fazermos conhecidos, iniciando na magia de co-criar com Deus.
Enquanto isto não aconteça, o mundo continuará sem graça, o peso da vida além da conta, e o ser como burro de carga vai levando o corpo na sina, resistindo, encenando o auto engano, realizando o faz de conta.
E a fonte Divina amorosa, o reluzir caloroso que vem do centro, fica por detrás da cortina. Sem uso.
É da gente o serviço.