Pedido aos que me Ouvem

Dora peço aos passarinhos mais cantarinos:

"Amigos, não canteis à minha janela

Digo ora aos amigos mais floridos:

"Passarinhos, não canteis às minhas frestas

Aos homens da vida, os tão mal vividos,

Os tão pouco homens, assim como eu:

"Irmãos, não detenhais vosso esturro diário,

Não por mim que vos falo

Eu sei bem que este seria interminável,

Não findassem então os dias,

Não fosse efêmera a vida

Então, aos concubinos meus mais sombrios,

Quais inda hoje mesmo nas fundidades me desejam:

"Não clameis minha vinda,

Como não fizestes à minha volta,

Que já não mais volto,

Que a arte minha já não vinga,

Que não faço parte prima em minha sina

Mas que se vá minha sorte,

Que recebo em corte o visitante derradeiro

Quero ter as coisas da casa prontas,

Assim que não me julguem mui mal a frustrada vida

Ora,

"Ide embora logo, voltai aos vossos campos,

Que vós nem eu cá palavras trocamos

Somente se curtem o malogro estranho,

A poção de chorume e antanho,

E a vontade banal e final de que juntos não nos detenhamos

Ora,

"Não canteis minha janela,

Que ela não mais se dá aberta,

Minha porta mortifica a chave torta

E não clameis minha volta,

Que eu não volto

H Reis
Enviado por H Reis em 24/01/2020
Reeditado em 25/01/2020
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