Pedido aos que me Ouvem
Dora peço aos passarinhos mais cantarinos:
"Amigos, não canteis à minha janela
Digo ora aos amigos mais floridos:
"Passarinhos, não canteis às minhas frestas
Aos homens da vida, os tão mal vividos,
Os tão pouco homens, assim como eu:
"Irmãos, não detenhais vosso esturro diário,
Não por mim que vos falo
Eu sei bem que este seria interminável,
Não findassem então os dias,
Não fosse efêmera a vida
Então, aos concubinos meus mais sombrios,
Quais inda hoje mesmo nas fundidades me desejam:
"Não clameis minha vinda,
Como não fizestes à minha volta,
Que já não mais volto,
Que a arte minha já não vinga,
Que não faço parte prima em minha sina
Mas que se vá minha sorte,
Que recebo em corte o visitante derradeiro
Quero ter as coisas da casa prontas,
Assim que não me julguem mui mal a frustrada vida
Ora,
"Ide embora logo, voltai aos vossos campos,
Que vós nem eu cá palavras trocamos
Somente se curtem o malogro estranho,
A poção de chorume e antanho,
E a vontade banal e final de que juntos não nos detenhamos
Ora,
"Não canteis minha janela,
Que ela não mais se dá aberta,
Minha porta mortifica a chave torta
E não clameis minha volta,
Que eu não volto