Ele levantou
Estava obstinado
Era a nonagézima vez
Levantou e foi
Um passo de cada vez
É tão fácil
Papai esta logo ali
É só sorrir você consegue
Estou conseguindo
Olha pai
Mas
Minha perna enroscou
Na oitagezima fiz igual
Caí
Chorei
Tentei
Papai me olha cheio de dó
É comigo
É eu
Papai não pode
Ele olha esperançoso
— Vai filho você
Consigo nada!
Choro
Pela octingentésimo chorei
Eu sei
Eu contei!
Na oitava na centésima no parquinho
A mãe fala que tenho problema
Papai diz que vou conseguir
Preciso levantar
E deixar de ser bebê
A mamãe olha com modo de reprovação
O papai confia em mim
Eu vou levantar
— Vai mulher segura ele
– Outra vez?
– Sim, outra e outra
Até ele conseguir
Papai, sorrio
(Única coisa que sei fazer)
A mamãe me empurra
é um percurso pequeno a vencer
Eu consigo
Eu sei que consigo
Só preciso parar
De engatinhar
E deixar
A minha zona de conforto
ZONA DE CONFORTO
A diferença de engatinhar e andar
Faz o divisor de bebê e criança
Um passo de cada vez
Aprender com todos os sexagésimos tombos
Cada cicatriz me fará forte
Para prosseguir
Afinal o mundo é Belo e gigante
Preciso correr a ele
É isto!
Levanto
E vou
...
Fui
Andei
Mamãe chorou de felicidade
Papai parceiro me abraçou e disse
– Meu garoto!
Está etapa vencida
Poderei distribuir fofurices
Por aí
.
.
.
Passou um tempo
E mãe
(Sempre a mãe)
Falou:
– Ele não fala! Vamos levar ao fonoaudiólogo
Papai sorriu e disse
– Calma ele vai aprender
Teremos paciência
Cada palavra
Será uma vitória
E na milésima combinação
Ele fala
Eu escutando o diálogo
Mãe cheia de serás?
Eu no Gugu dadá no angu
Papai sorriu
Era por aí
.
.
.
Certos poemas
São compostos
Para me ensinar
O quanto
A vida é igual
O importante
É acertar sempre
Todavia não posso
Ignorar a trajetória
Do acerto
Terá quem dirá
Vai conseguir
E também o que dirá que não
Todos os dias vou ter que sair
Da minha zona de conforto
Cairei?
Claro!
Faz parte do processo
Falarei coisas desconexas
Sim
Preciso ser persistente
E quem acredita ou desacredita
Me faz crescer