Rebuliçando Seu Rosto

 
Sentir mais é impossível. Sentir de menos, corre-se fora dos padrões. Se é que coisas do coração tem alguma ética. Ao contrário, ela fica de prontidão para sufocar ânsias dos incautos e os aparentes da vida.

Uma vez enlaçado de rosas, nossas mãos se tornam uma; uma vez, corrida de luz mágica que exala do corpo, você se torna um adendo a provar o gosto dos deuses.

E, de repente, numa manhã, você se depara tão só como o pássaro mais meigo e sozinho que sobrevoa atiço o céu enfermo.

Se procurar, não vai achar. Se achar, encontrará restos e migalhas. Sua ação fica medindo centímetros de um pano só.

Se assim quis a vida, assim você não compreende a vida, pois ela não foi feita para ser entendida. Foi feita para ser sufragada de ações que nem o maior tempo do mundo consegue exaurir ou apagar de sua memória.

E se você é um, um continuará a ser. Até que novamente, um dia, sem ao menos esperar, sufrague do céu, outra mão tão, ou mais cálida, do que a anterior.

Neste ponto você se chamará alguém de novo. E lágrimas passadas, são lágrimas roladas, numa cachoeira avulsa de densas águas, onde, subitamente, você vislumbra uma flor solitária rebuliçando seu rosto.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 20/01/2020
Reeditado em 23/01/2020
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