Lenços do Ouvidor

 
Lasciva noite de sonhos, ondem paredes de cor anil se misturam a gritos e pessoas sem rumo.

Perdida noite de insônias onde pássaros se afugentavam em ninhos supostos de calor, onde flores murchavam como pendem os homens mortos.

Gritos e ânsia de correr; de procurar outro mundo. De inventar uma paz duradoura e amiga que afagasse meus ouvidos com palavras doces e corridas de mel de avelãs.

Corro por entre vãos e clareiras, ultrapasso montanhas impossíveis e cáusticas pra lá da Costa de Zambaia.

Ouço vozes, mas não são para mim que habito ao lado - um quarto miúdo de uma porta - uma saída - onde ninguém passa, nem pra entrar, nem pra sair.

Sou do Ouvidor, da vila de antiguidades, das charretes polutas e lavadas, dos homens formados de terno de brim e gravatas soleiras.

Sou desse tempo e por lá fiquei, pois as vozes que me batem, vêm de lá. Lá onde meu amor, tonto, morreu sem voz, sem paz, porque o destino quis.

E ai, encrenco!

Que destino faz isso, que nos leva tudo e só nos deixa um lenço de cetim pra chorar?
José Kappel
Enviado por José Kappel em 18/01/2020
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