Anjos drogados da periferia.

Eu vi expoentes da minha geração destruídos pela loucura, falando sozinho, histéricos, entrando em becos, arrastando-se pelas ruas do bairro barra-pesada de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,

Eu vi hippies, cabeças-feitas, belos rostos de anjo, ansiando pelo velho contato celestial, movido por dínamos enrolados, ingeridos, estrelando a maquinaria da noite escura e periférica,

Eu vi a juventude pobre, olheiras fundas, viajando fumando, sentados no sobrenatural, nos fundos de quintal, na escuridão da vila miserável, sem esgoto, sem saúde básica, flutuando sobre os tetos no alto do morro, contemplando o fogo.

Enfim, eu vi amigos que desnudaram seus cérebros e entraram em labirintos profundos e que ali ficaram como anjos sem asas, presos na imaterialidade, cambaleando, sofrendo em manicômios, presos em casulos do tempo onde se trancaram e outros que desistiram da realidade e desse tempo, viajando além, antes da hora.

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Esse texto é um mix que fiz, adaptando trechos do longo poema Uivo, de Allen Ginsberg, poeta norte-americano, à realidade que vi e vive na periferia da Vila Brasilândia, onde jovens amigos tomados pelas drogas, basicamente cachaça/maconha, posteriormente alguns no crack, tornaram-se dependentes, doentes, esquizofrênicos em manicômios, pelas ruas e becos, alguns jazem no cemitério. E hoje vejo outros anjos periféricos no mesmo rumo. E isso me choca, me faz chorar.