Água, sabão e sol
A máquina de lavar o passado
já fez o serviço e deixou tudo limpo
ninguém se lembra mais
do sabão artesanal,
da água de anil,
das fileiras de roupas no varal
quem hoje pensa que das alturas,
o sol vigiava o vento
e as roupas em movimento?
já se apagou a imagem
das peças ainda quentes
acomodadas nos braços
após a secagem, o cheiro bom
de água limpa que se evaporou
lembranças são tecidos frágeis
desbotam, perdem a cor
bem que o ferro de brasa tentou
tatuar na pele do tempo
a marca de seu valor
a futurista máquina de lavar
lava até os peixes do mar
sobre as águas deságua
sua espuma branca e leve
cobertura de clara em neve
querendo nos enganar