Batidas em desalinho

Ouviste esse som?

Claro que não. Como poderia ouvir, não estás preparado.

Maldito som, só pode ser ouvido pelos que choram e riem de alma, só pelos que tem o dom de ouvir suas malditas notas e sobre elas criar letras e histórias.

Maldito som, entristece e alegra, faz de tu nascer suas malditas filhas, a solidão e a alegria.

Maldito som, maldito o dia que consegui ouvi-lo. Como podes, tu és apenas batidas em desalinho.

Quem te ouve tornasse um miserável, um pensador, questionador das coisas que já se sabe as respostas.

Quem te ouve tornasse um belo, apreciador do que não se explica, e da dúvida cria coisas boas.

Por que veio a mim, maldito som, sou tão especial assim.

Te ouvi tão cedo, poucas letras consegui criar em tuas batidas.

Por que não surgiu em outra época, por que não me deixou viver mais?

Vivo, te ouvi belo e saboroso.

Morto hoje estou por tua causa, maldito som, das profundezas de meu peito saiu e não quis mais voltar.

Desgraçado és tu, maldito som, meu belo e desgraçado, som.

Mas, maldito som, tu também és bendito, sem tu nada alegre seria também.

Maldito som, a pergunta que não consigo responder e porque tu existes.

Maldito som, malditos os que não te tens, benditos os que te possue e te ouve belo, e malditos os que te tem e ainda não pode ouvi-lo.

Tu és, o som daquilo que faz meu sangue circular.

Rodrigo Almeida L
Enviado por Rodrigo Almeida L em 21/10/2019
Reeditado em 21/10/2019
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