E.S.S.M.
O que eu mais queria mesmo no meio de tudo isso era que as músicas não fossem perdidas. Queria que as melodias não se tornassem intragáveis, quase como um soco no estômago, que elas não se esvairassem e todas aquelas notas fossem obrigatoriamente descartadas da memória. O problema tá aí, na verdade, a memória que deixa tudo irremediável, que traz cada segundo pro presente e deixa tudo tão inerente. É como se quando eu ouvisse aquelas músicas você surgisse na minha frente, mais real do que nunca, como se eu estivesse deitado de novo no seu lençol velho cheio de bolinhas e seus travesseiros finos. Quase posso sentir o cheiro da chuva caindo no lodo da parede do seu quintal. Quase posso ser jovem novamente, amar de verdade, amar e ser amado, chorar pelo amor que nem se partiu, chorar pelo amor só por ser amor, mesmo antes de se acabar. O amor acaba. As notas musicais ficam. Eu queria poder ouvi-las como antes. Ver aqueles filmes sem lembrar dos seus comentários nas cenas e do jeito como você sempre coçava a cabeça quando se virava na cama e depois ajeitava pro lado o cabelo.
Como amei, meu Deus, como eu amei. Amei tão fortemente que agora não há mais o que ser amado, suguei cada partícula de vida da vida. Amei certo e amei errado na maior parte do tempo. "Por que eu me apaixono por toda mulher que eu vejo e que me demonstre o mínimo de atenção?".