A festa

A festa

E no meio de toda a farra, da gritaria, um sentimento contagiava, deveria ser alegria por todos aqueles movimentos brilhantes que entravam pelo corpo, se infiltravam no espírito e saiam em forma de dança. Mas não era alegria. Talvez por um breve momento tudo tenha aspirado felicidade, mas era óbvio que nada era como parecia ser.

Foi em um flash corriqueiro que parei no meio da euforia e percebi que estava viva e consciente da minha existência. E então me perguntei o porquê de estar ali? Olhei repentinamente para todos aqueles olhos, que alucinados pela música refletiam uma magia encantadora e observei como parecia ser a ultima vez que eu iria os ver...

Senti um arrepio no meu corpo e um medo surgia espontaneamente crescendo a cada batimento cardíaco. Foi neste momento que tudo desabou, senti uma enorme vontade de chorar, fiquei com medo do amanhã, como medo da morte... Logo eu que sempre desejei a morte?

Percebi o quão os meus últimos dias estavam alegres; festas, bebidas, dança, amigos e coisas sociáveis do dia a dia como uma leve visita de um conhecido me contagiavam e eu me sentia feliz. Eu que sempre fui tão infeliz e desgostosa da vida, tive tudo o que eu queria em poucos dias, finalmente uma vida sociável, finalmente alegria.

Mas seria ilusão? Por que seria a ultima vez?

Poderia continuar e só continuar, e talvez eu tenha tentado, ou quer dizer, só seguido o ritmo, como se de fato tudo o que eu viria a presenciar fosse pela ultima vez.

Aqueles olhos cintilantes, sim aqueles olhos que me rodeavam por todos os cantos, todas aquelas respirações presentes no meu cotidiano pareciam distantes. Estava paralisada, não conseguia me mover e queria gritar... Mas era como se finalmente eu me sentisse em um caixão... As pessoas me olhando e eu sem fazer nada.

Meu medo... Meu medo era de que aquela festa viria a ser um funeral.