Sinto 2
Impossível estabelece condições para o Sagrado ser em mim. O silêncio dele nos dias, e as condições do seu estar, impõe não ser mexido.
Sua identidade mantém-se preservada, como condição da continuidade do ser em mim, pleno, perfeito no gosto e no modo de satisfazer-me. Pede minha mordaça, meu engessamento, meu cala boca sobre a indagação de quem é.
Trata-me como ao filósofo, ao religioso e ao místico, no querer saber, conhecer o nome, o homem do Pai, primeiro da Trindade. Fraca, incompetente, subordinada.
Ele, o Sagrado. Intuo ser aquele que conhece o Autor da sabedoria, da inteligência, sabedor de quem é o que criou o gosto do doce e do azedo, do desejo e da renúncia, da ideia no juízo do que criou a foice, o martelo e a madeira para a mão do marceneiro, o homem e a mulher, o sexo, a transa e o prazer, o amor e seu espetáculo, a fertilidade e a morte.
Dizimou em mim o estranhamento com o desconhecido, inseriu-me junto dele na fazedura do firmamento. Não Sou nem pequena nem grande, saí da medição, do quadro, da definição, pertenço a ele, inafastavelmente, consentidamente .
Visto todos os heterônimos de Fernando Pessoa, como roupa de camarim, recito os versos de Cecília Meireles e Rubem Alves sendo eles no avesso, transito nas ruas e ruelas das estórias de Machado de Assis, vibro no fervor patriota mumificado de Rui Barbosa, e na nitidez das verdades de Foucault sobre o homem e o poder nada modernos, a angústia deste fim de era grita dentro como fosse minha.
Inesquecível e denunciante a expressão dos indiozinhos cantando a música do desatino na Festa Literária, pavor, medo de se verem esquecidos pela humanidade, soldados de arco e flecha, obsoletos para o combate na guerra dos ideais digitais.
Mesmo assim, sigo junto ao sagrado, me doo como catalizadora, telespectadora, sendo, não sendo.