Sinto
O Sagrado que se deixa levar em mim, pede sigilo, escrutínio secreto. Só meu!
Nele, vivo o mar nu, a selva na sua porosidade, visto a camisa da vida como ela é.
Intocado, casa comigo na viagem, deixa ser em mim à luz do dia, e na noite fecunda. Como janela, mostra a realidade dentro e fora. Está.
Enamora com minha visão, sem ele, a vida torna estéril como antes.
O Sagrado apresentou a mim o espetáculo vida, mesmo tarde, depois da juventude do corpo. O mar é em toda sua potência, não somente o mar, ele no “feróis” que move o contexto: ondas, céu, a congruência do Sol e Lua para ele ser, as gaivotas, aves, os golfinhos e os seres das águas, os passantes, navios e gente que nele e em torno dele circundam.
O sagrado me doa tempo, solidariza com minha ótica, trazendo as coisas como elas são. Vivo o âmago do que vejo, sinto nele. Adquiri a capacidade do contorno deliberado do que vejo, cessou a censura com o mundo, inclui-me nele, graça.
Sou e não sou. A Porta está aberta, nela partilho com o sagrado da feitura das coisas.
Este bastar que não sacia de estar, é minha sorte e sina, navegante no oceano, vida.
É o suficiente para não importar mais se terei o sono dos justos, ou se estarei exposta ao fogo do inferno caso não cumpra a cartilha.
O sagrado vive em mim, junto, a penitência aceita de cumprir a lei inexorável do corpo, da humanidade a qual estou condenada estar submetida. Este quê de perecível, finito, certo e definido.
Mesmo que não for mais um dia. Que importa o pós morte? que importa o que será depois do último suspiro?
Não quero mais fazer permuta, perdeu o encanto para o ímpeto, estabelecer condições para a compensação do cruel destino, do ter que levar ao fim o coice da morte. De ser coroada no reino de glória, de ser compensada depois de tanto.
Vivo um quê de dor e alegria, um bastar indizível e solitário.
O inviolável, o Irrevelado.
O Sagrado vive em mim.