Tórrido Encontro

Sou cristal esotérico, te refrato em múltiplas personalidades, singularidades. Não sou explosão, sou o próprio universo liquido, flamejante, denso. Entorpecido em meus mistérios. E tu sabes, tu sentes. Meus olhos são cheios e as janelas da minha alma nunca estão fechadas para você. Mas te imploro: não perca-se em mim, pobre alma do além. Sou singular e minha deformação é massacrante. Suprimo, comprimo, oprimo tua alma a cada instante. Te sufoco em meio a viscosidade-viva que sou – labareda ancestral. E tu, apesar de tanta dor, ainda me ama, me desejas. Quer sentir meus cachos, minhas macias mãos em seu peito nu palpitante, minha língua precisamente desenhando teus caminhos mais secretos, mais nucleares; minha pele quente que te molda, te esculpe – ó pietá de barro-vivo-ardente que és, obra de meu desejo mais tórrido.

Nosso encontro é casual, nosso olhar passageiramente eterno. E ainda assim não há fim, não há termino. Nossa dificuldade de comunicação falada é nossa fantasia. Nossas íris comunicam-se no silencio das noites de outono e é suficiente, incerto. Ternura finita que nos confirma que estamos vivendo e respirando. Os lençóis como figurantes atravessam as esquinas de nossos caminhos sem que sejam notados. Os travesseiros abafam os sons dos mais sinceros louvores às vibrações que perpassam-nos, transcendem-nos. Suor escorre ardente pelas costas de ambos ao fim de tal ritual pagão milenar. Tu se expande em êxtase sincero e os nosso corações tem o mesmo ritmo. Somos uma única obra de barro. Somos quimeras seculares e quebramos leis universais. Finalmente, olhos nos olhos enxergam quem tu és e quem eu sou e é chegada hora do apocalipse, do fim do nosso encontro.

Ainda abraçados, extasiados em brilho de luxúria, sentimos o aperto no fundo da garganta. O vazio está voltando. Assim como entramos sem dizer uma palavra, sabemos que é hora de partir e nossas íris não mais se comunicam. Corações voltam a bater em melodias de diferentes ritmos e notas. Somos som, luz e poeira distintas novamente. Não há necessidade de adeus, nem de belas palavras. O século é XXI e diante do vazio de nossas mentes e corações, não há maior certeza do que a morte. Morte de tudo que foi casualmente vivido ao atravessar o portal que nos levou a tal dimensão: ser humano.

Klethon Gomes
Enviado por Klethon Gomes em 14/07/2019
Código do texto: T6695356
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