Florianópolis

Florianópolis

Em 2007 eu me apaixonei. Passei 20 dias na praia do Santinho. O que foi acontecendo mudou minhas retinas. Me apaixonei e as pessoas não sabem ou não querem saber que amo com uma força bruta pra durar a vida inteira.

Na bagagem levei pra casa imagens e sensações que droga nenhuma é capaz de causar. Doía algo, fechava os olhos para ver e sentir Florianópolis. Eu já tinha viajado com minha avó, que muito sofreu e sabia, portanto, o que me oferecer. Ela via uma menina que como ela mereceu viajar e estudar. E me colocava num patamar de ser linda e até princesa. Por isso, ela me levava.

Mas eu, apesar de ter viajado, parei em Florianópolis. Trouxe Florianópolis comigo, nas vísceras. Minha irmã sabe morar e viajar, assim como se mudar. Ela conhece os lugares em que vive. Ela peita o mundo e sai fora. Portugal é sua morada. Mas enquanto viveu no centro de Florianópolis l, fotografava e viveu intensamente esse lugar.

Eu não. Eu cheguei e trabalhei. Eu sabia que ia vir me imiscuir aqui lá na frente. Ia morar numa cabana no Pântano do Sul. Mas as trevas da vida quando te atropelam te obrigam a partir. Eu parti pra cá. Há três anos e cinco meses venho trabalhando tanto que conheço Florianópolis dos meus sonhos de 2007.

Então, um dia, entre dois compromissos, parei no centro da cidade. E pude entrar na Catedral. E entrando, toquei a parede pra ser como aquele que a levantou. Vi ranhuras na parede. Elas que me interessam. Perto de sua grandeza, do tempo de amor platônico por essa cidade, deixei que as lágrimas fizessem de mim o que quisessem. Há muito não temo chorar. Não conheço mais arrogância. Sou instrumento do sentir e esse é o meu tesouro.

Olho para cima e para longe e ali está o Hospital de Caridade. Em 1970 minha mãe noivou com um manezinho de sobrenome Dutra e amou essa família e lugar. Coletava berbigão nos Coqueiros. Foi enfermeira lá onde conheceu o João. Passei a vida dizendo : mãe , como foi que tu saiu de Florianópolis pra vir pra Porto Alegre? Leonina, mãe viveu paixões. Meu pai a chamava no Sul. Depois viemos todos para cá, sendo eu a pioneira. Trazendo a mãe e meus filhos, e os irmãos depois. Ironicamente a mãe faceleu no mesmo local em que trabalhou, na UTI que ajudou a moldar.

Na praça da Figueira eu era os abraços dos passantes, e compreendia o perdido dos jovens que me olhavam dizendo que não estão por paz. Mas eu me sentei para escrever. E que ninguém se atreva a me assaltar pois estou armada de saudosismo. Junto ao assaltante farei uma música. E não sou agora uma mulher bonita e atraente. Sou turista da minha cidade.

E vi em Florianópolis a antiga Porto alegre, arquitetura e museus, materiais escolares que usei e que minha mãe usou e minha avó vendeu. Eu toquei os materiais com meus próprios dedos anos atrás. Hoje, toco com os olhos através do vidro. Vejo imigrantes de todos os lugares. Conheço um japonês que constrói um restaurante e já sei que vou almoçar por lá. E pego o preço dos museus e planejo que meus filhos terão essa trajetória por mim embalada. Eu vejo amigos dormindo lá em casa pra que eu possa levá-los ao museu.

Não quero nada só pra mim. Eu quero as coisas para a integração das pessoas. Eu me vejo contribuindo para a arte e a cultura dessa cidade. Eu me faço agora, quem escreve para ela e num futuro, me torno uma cidadã manezinha que não só vai escrever, mas ser instrumento de arte e tatuar aqui sua sensibilidade.

Te amo, Florianópolis. Para sempre.

Juliana Mendes Bueno Artemis Lua Crescente
Enviado por Juliana Mendes Bueno Artemis Lua Crescente em 06/06/2019
Reeditado em 06/06/2019
Código do texto: T6666532
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