Fiorella

Não me recordo...Não sossego...

Vi-a naquele dia soalheiro de Abril.

Desde então não mais tirei os olhos dela, mesmo na sua ausência.

Pele macia de aparência cuidada que de pronto mesmerizou os meus sentidos.

Não me lembro...E me arrebata...

Olhos castanhos, penetrantes, com brilho próprio, intensos, cativantes.

Lábios perfeitos de um carmim fulgurante de quem prontamente me apaixonei.

O seu cabelo solto pelos ombros despertou-me o sonho…

Alta, tão alta quando os sonhos que em mim despertou.

Não me memoro...E me confundo…

A sua alma de pronto comunicou, a sua presença ressoou em mim.

Não, não foi essa a primeira vez que a vi.

Sinto-a no sangue que me corre em direcção ao coração, que faz acelerar os seus batimentos.

Não me relembro...E me inquieto…

O seu nome ecoa nos meus ouvidos, e me é reminiscente.

A sua voz me é tão íntima.

Tão delicada e palpável.

Não me lembro...e me aflijo…

Contemplo o passado em busca de respostas.

Sem sentido e sem rota.

Quão distante está o teu semblante?

Não me recordo...E me angustio…

Do olhar nasceu a incerteza.

A memória foi enterrada pelos anos.

Embora o seu nome me persiga noite e dia.

Não me memoro...E me amaldiçoo…

Iradamente vasculho toda a minha existência.

O sol já não nasce nem se põe.

A noite já não começa nem tem fim.

Não me lembro...E me entristeço…

Só, sem esperança, rasgo memórias no teu caminho.

Não te vislumbro no meu velho pretérito.

Sinto-te no fundo da alma e contudo não te consigo alcançar.

Amo-te e não sei de onde.

Não me recordo...E tampouco vivo…

E aperta-me o coração e sinto-me morrer.

A angustia que se gera, a tristeza que assola.

E o ar não chega para alimentar a minha vontade de viver.

E aperta-me o coração e sinto-me morrer.