Da Coluna Norte ao Potengi
Ao meu Estado deram o apelido de Elefante
A cidade de onde eu vim, chamam-na de Cidade do Sal
Na Coluna Norte desse gigante, deixei para trás algumas coisas que precisavam ficar para trás
Hoje moro num lugar conhecido por ser a Cidade do Sol
Dizem que quanto mais próximo da Linha do Equador, maiores são as temperaturas
E aqui estamos
Cheios de nomes e codinomes
...
Saindo do trabalho por volta das cinco da tarde
Fui surpreendido com um lindo pôr de sol
Desses de parar o mundo
Agradecido eu fiquei e registrei o quadro geral
Será que você consegue imaginar:
Uma rua íngreme e estreita
Pavimentada ainda com pedras e areia
Calçadas altas compensavam o declive quase vertical
Compense, também, o exagero
Lá embaixo, o Rio Potengi seguia o seu curso natural
E para além dele, o mangue que o serpenteia
Ofuscando rio, pedras e mangues
Aquele pôr de sol alaranjado que atravessava oceanos e continentes intermináveis
Tocava os meus olhos castanhos no ponto mais alto da rua
Úmidos faróis que iluminaram por um instante as ruas vazias do meu rosto
...
Num primeiro momento seria cômodo pensar que não havia nenhum rio ali embaixo
Ou que o sol seria egoísta
Entretanto, é mais razoável pensar que o sol nunca teve a intenção
Afinal, agora já passam das seis e ele já não está aqui
Seguindo a linha
O rio permanece no mesmo lugar
E os continentes e as pedras e os mangues
Até mesmo a Coluna Norte insiste em ficar lá, parada.
...
Veja que perversão
O mesmo sol que fazia arder a minha pele
Ao insuportável meio dia equatorial
Me trouxe, no fim, um aspiral
E eu não queria que ele fosse embora.
____________________________________________________
Nota: Caso alguém tenha curiosidade, a imagem registrada encontra-se disponível no link que deixarei nos comentários.