ALEGORIA POLIGLOTA

Fui atrás de ti para satisfazer meus mais carnais desejos, sem saber que estava simplesmente obedecendo meu interior que ansiava reencontrar-te e aproveitou-se do meu corpo para cumprir tal intento.

Seduzir-te não foi uma tarefa tão difícil, bastou que te dissesse que te desejava desde o dia em que te vi pela primeira vez.

Quando disse isso, pensei estar me referindo há oito anos, quando o Brasil fora desclassificado na copa pela Holanda. Entretanto, eu não passava de uma ventríloqua de minh’alma, que te queria desde antes da guerra de Tróia.

Nossa conjunção carnal fora perfeita e seguiu os princípios das Leis de Darwin. E, embora tivéssemos em comum: Química, Física, Matemática, Biologia e Linguístca, por lástima, não partilhávamos Geografia e muito menos História…

Equidistantes de Galápagos, acabamos infringindo convenções civís estabelecidas acima e abaixo da linha do equador.

A despeito de infrações e iludida por Saint Exupery pensei ser a própria raposinha, deixei-me cativar e tentei te cativar sem medo, acreditando que meus dividendos sentimentais seriam provenientes da cor do trigo…

Triplo engano, o trigo não floresceu por empecilhos geográficos, sociais e morais, sobretudo.

E foi aí que o príncipe descobriu que a raposa, na realidade era o elefante que tinha sido engolido pela serpente, e a repudiou temendo os danos que seus movimentos, ainda que não fossem bruscos, poderiam causar em sua loja de cristais, onde acomodara suas canções, sonhos, livros, esposa e filhos.

D’accord le petite renard te promet que elle ne bougera pas , e que vai aguardar passiva pelo chegada do “tempo da delicadeza”.

Mas, e se for verdade que o essencial é invisível aos olhos e a raposa- elefante descobrir que tampouco se trata de um príncipe, mas daquele pelo qual há boas razões para esperar, ainda que seja por milênios, quando talvez Alcalá de Henares será uma cidade submersa?

Tomara mesmo que o Chico Buarque tenha sido profético e que o amor que eu deixei pra ti possa ser aproveitado por futuros amantes.

Penélope Lancelote
Enviado por Penélope Lancelote em 17/04/2019
Reeditado em 17/04/2019
Código do texto: T6625818
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