Espelho d'água

Hoje me peguei olhando para o espelho d’água. Por incrível que pareça não vi meu rosto refletido, vi o seu. Não só o seu rosto, mas como um portal… vi um tempo, você era como antes, talvez vi o seu rosto em mim e te vendo lembrei-me do tempo em que nos amávamos. Fiquei a suspirar e contemplar aquela entidade refletida em mim. Foi um flesh, se pudesse mensurar o instante diria quanto tempo durou, mas tudo que posso dizer: foi um lampejo. Mas, quando entramos em outra dimensão somos acometidos por um transe no qual não nos damos conta, não sei se foi sonho, miragem ou visão, sei que foi sobrenatural. Quando me vi estava imerso nas minhas lembranças e caindo em mim recobrei a lucidez e senti dores de saudades, daquelas que fazem as entranhas arder, como um remorso que não passa. Como se a culpa fosse minha e eu não estivesse arrependido, mas não gostasse do resultado. Aqueles primeiros pingos de chuva pareciam ecoar não as marolas mas a minha consciência.