O RELÓGIO DA MATRIZ

Amanhece o dia olho o relógio, são cinco e quinze.

Tomo café, compro um pãozinho, olho no relógio, são cinco e quinze.

O trem passa, conto os vagões, olho no relógio, são cinco e quinze.

Ando no terraço, vou ao banco, olho no relógio, são cinco e quinze.

Almoço. Me sento em frente à matriz, olho no relógio, são cinco e quinze.

Desço a rua, vou ao mercadão, volto e são cinco são quinze.

Tomo outro café, me encontro com os Joões, olho no relógio, são cinco e quinze.

Paro em frente à praça, já se faz tarde, olho no relógio, são cinco e quinze.

Vou-me embora pensativo, sem saber quando ele parou.

Cinco e quinze ou dezessete e quinze, não sei...

Mas não me canso de olhar para ele.

In Antologia de verão, Perfil Editorial, 2019

carlos tiokal
Enviado por carlos tiokal em 18/02/2019
Código do texto: T6578263
Classificação de conteúdo: seguro