O RELÓGIO DA MATRIZ
Amanhece o dia olho o relógio, são cinco e quinze.
Tomo café, compro um pãozinho, olho no relógio, são cinco e quinze.
O trem passa, conto os vagões, olho no relógio, são cinco e quinze.
Ando no terraço, vou ao banco, olho no relógio, são cinco e quinze.
Almoço. Me sento em frente à matriz, olho no relógio, são cinco e quinze.
Desço a rua, vou ao mercadão, volto e são cinco são quinze.
Tomo outro café, me encontro com os Joões, olho no relógio, são cinco e quinze.
Paro em frente à praça, já se faz tarde, olho no relógio, são cinco e quinze.
Vou-me embora pensativo, sem saber quando ele parou.
Cinco e quinze ou dezessete e quinze, não sei...
Mas não me canso de olhar para ele.
In Antologia de verão, Perfil Editorial, 2019