TINTA SECA
De vez em quando escrevo sobre você
me pergunto como lembra de mim
se lembra de mim
se pega aquele papel amassado da memória
a caneta de tinta quase seca no coração
e escreve duas ou três palavras sobre mim
me pergunto se só ignora sacudindo os ombros
na tentativa de me expulsar
como quem acabou de ter um mau presságio
Aqui a sua caneta nunca seca
ela falha, eu sacudo
ela falha de novo e eu até desisto
mas, ora ou outra, só às vezes
eu escrevo algumas palavras e a cor sai vibrante
a tinta reluz como se nunca tivesse sido usada
vibra me mostrando que ainda terão palavras e poemas soltos
todos sobre você, de novo
Já me odiei por não te deletar por inteiro
hoje, não tenho medo nem me envergonho das palavras que escrevo
tenho medo do silêncio que me sucumbe
quando me pergunto:
“e a caneta dele... já secou?”
A.M.