TINTA SECA

De vez em quando escrevo sobre você

me pergunto como lembra de mim

se lembra de mim

se pega aquele papel amassado da memória

a caneta de tinta quase seca no coração

e escreve duas ou três palavras sobre mim

me pergunto se só ignora sacudindo os ombros

na tentativa de me expulsar

como quem acabou de ter um mau presságio

Aqui a sua caneta nunca seca

ela falha, eu sacudo

ela falha de novo e eu até desisto

mas, ora ou outra, só às vezes

eu escrevo algumas palavras e a cor sai vibrante

a tinta reluz como se nunca tivesse sido usada

vibra me mostrando que ainda terão palavras e poemas soltos

todos sobre você, de novo

Já me odiei por não te deletar por inteiro

hoje, não tenho medo nem me envergonho das palavras que escrevo

tenho medo do silêncio que me sucumbe

quando me pergunto:

“e a caneta dele... já secou?”

A.M.

Ayala Mariane
Enviado por Ayala Mariane em 18/02/2019
Reeditado em 18/02/2019
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