Verdades e veleidades V****
V - Recortes do passado
Recorte antigas páginas de jornal. Faça um girassol com as fotos amareladas do teu passado. Quem sabe, em um lado qualquer guardado, não venha a encontrar teu último semblante amargo, querendo novamente ao sol sorrir.
Muitos acordam, já tardiamente, ao amanhecer dos milagres dos bisturis; tentam ressuscitar a alma sempre afoita – e solta. Não! Caminhos fugitivos que enobrecem carnes, resguardam rancores, escondem dores... Amargam a triste sina dos que acordam sem ver o sol nascer. Não! Não te enganes com antigos fatos e fotos esmaecidas gravadas em preto e branco – apenas o passado fugitivo na realidade de cada manhã.
Veja! O antigo sorriso largo está cada vez mais calado diante da flacidez do presente nunca esperado. Atemporal é a lição das flores murchas que não se deixam levar pelo opúsculo de luz dos instantes de brilhos passageiros – se resguardam, esperando o momento de girar sobre suas próprias dores em busca de um viver mais intenso e verdadeiro. Já não mais vivemos como as flores, já não mais olhamos os céus nas nossas dores... Preferimos os espelhos que só refletem os instantes dos nossos vis clamores: “Espelho, espelho meu....!”
Atente! A carruagem em ouro carrega o peso efêmero da hipocrisia da glória – distante dos girassóis, a glória se torna apenas o passageiro do instante imprescindível e sustentável à estabilidade do convívio social; crença em um momento onírico que nunca se finda. É a triste sina em riste, fadada à dobra de futuros joelhos cansados diante do medo atávico do fim.
Não se desespere! Liberte-se do peso das maquiagens vãs. Não és o núcleo efêmero de instantes presumíveis ao ostracismo... És apenas o passageiro - sem guia, mal amado - querendo carregar no dorso o peso do instante fútil em um mundo cada vez mais repleto de fugacidade.
Acredite: tua natureza humana é imutável; o vazio deixado pelos teus instantes de gozos passageiros é a porta de entrada para tua libertação.
Em cada manha, um girassol nasce por ti!