MADRUGADAS, JORNAIS E NOVELAS
O início do conto é misterioso. Afinal, sou a escritora dos mistérios, pistas e exigências. Talvez seja um pouco perturbadora tal temática, mas todos precisamos desabafar. Certamente me acharão incômoda, louca e carente. Contudo, estou acostumada. Meu travesseiro escuta diversas anedotas inversas, vocês não aguentariam um segundo de minhas lamentações supérfluas. Vamos aos fatos.
Leticia Mariana é meu nome. Comecei a citar vivências através dos contos, mas é a primeira vez que faço um biográfico. Não me exijam isso sempre, peço gentilmente.
A noite me parece fúnebre. Estou de luto pelo meu sono saudável. Oras, não entendo o porquê de não dormir. Engulo calmante, visto meus hábitos de hippie ouvindo meditações, faço orações e repito fixamente: “Estou com sono, estou com sono.”. Calmamente, mudo a frase: “Durmo tranquila, durmo tranquila.”. Nossa mente gosta de nos sabotar!
Sem alternativa, assisto novelas antigas no canal viva. Noveleira assídua, tanto quanto leitora, comento em meu twitter as cenas mais marcantes do capítulo. Ignoro os seguidores que perco, esqueço que os intelectuais chatos da minha profissão detestam a rede Globo. Não pode mais se divertir em paz! Mas ora essa, engulam suas contas na Netflix e morram engasgados! Pseudointelectuais, eu diria.
Acabou. Rio com Odete Roitman e suas pérolas, mas vejo que realmente preciso dormir. Bebo água, respiro fundo e me cubro com meu edredom rosa. Observo o quarto e sinto ser adolescente demais pra mim. Quem se importa? Não recebo visitas, mesmo. Lamentável que o sono não queira tomar um chá.
Já disse que os sonhos acordados são os mais cínicos? Todavia, os meus realmente parecem sínicos. Made in china.
Tá, chega de fazer piadas nerds, não sou formada em letras ainda. Pareço chata desde já. O que eu preciso é dormir. Capotar. Que seja!
Quatro da manhã. Nada! Jornal “Hora Um” da Globo começou, época de eleição e todos os candidatos me trazem profundo desânimo. Pare de reclamar, Leticia Mariana! Lembre-se: As mulheres não votavam antigamente. Pagar ou anular o voto é inválido nos dias atuais. Valorize!
Ok. Chega de pensamentos ativistas, afinal nunca fui uma. É um saco se envolver em polêmicas, deixo isso indiretamente em meus livros e entendam como quiserem. Que se dane tudo isso, eu só quero ter mais tempo para… Vocês sabem. Odeio ser repetitiva!
Assistir jornais me dá um aperto no peito! Poxa. Nem as roupas elegantes das jornalistas me distraem. Elas mais parecem modelos, pensei. Como conseguem apresentar de forma tão animada às quatro da manhã? Ops, já são quatro e meia. O tempo nos empurra ao óbvio.
Cinco. Seis, sete, oito. Nove! Divulgo meu livro. Já começo a me irritar até com ruídos mínimos. O enjoo me consome. Olha, mas não é que resolveram fazer uma obra? Tento me acalmar, afinal daqui a pouco largam para lá e vira inacabada.
Resolvo tirar um cochilo. Antes, mando para o dropbox minhas anotações e meus versos.
Os versos não me descem.
Notas da autora: Texto escrito dia 10/09/18 e publicado na plataforma Medium.