CONTINUO NORDESTINO SIM!

Eu não sei dizer: “Saia do meu caminho!”.

Prefiro pensar sozinho porque sonhar…

Deixe que eu decida a minha vida por aqui,

não preciso que me digam de que lado nasce o sol.

Pois todas as manhãs ele bate no meu cobertor rasgado

e descaradamente entra sem pedir licença.

Pelos muros desta cidade eu vou escrevendo com letras grandes,

que a felicidade é uma arma quente e sempre a gente tem que queimar.

Que o tempo é o único caminho que faz essa labareda esquentar.

E esse tempo me fez nascer no nordeste e mesmo assim,

eu não consigo ir visitá-lo, por falta de tempo.

Mas sei que você vai, então leve as notícias minhas.

Diga que vivo no perigo da grande cidade e não sou feliz!

Que o meu coração está muito frio, muito gelado e duro.

Conta para os doutores, meus amigos, que eu abandonei a escola,

que fiquei só um pouquinho mais burro, mas ainda vivo, mesmo na viola.

Conta para eles que a metrópole é violenta, extermina os miseráveis,

mata os negros, estrangula os mendigos, rouba a vida das crianças

e vendem mocinhas para ao exterior e são ágeis.

No que toca à família, dê um abraço a todos e diga que estou vivo.

Já que você conseguiu a graça de visitar o norte,

diga que quando sobrar uns vinténs eu também aparecerei por lá.

Conta para eles que eu não venci na vida, fico só na lida e bem de vagar.

Que eu tentei ser da força e do poder

Mas como sou meio louco, fui expulso do serviço militar.

Mas peça que não se preocupem, ainda consigo me alimentar,

varrendo lixo que gente rica joga fora, pois para eles nada vale.

Diga que ainda não vendi a minha alma para o diabo,

pois ele viu mau negócio em comprar a minha alma e foi embora.

Meu pai, coitado, está com “padim Ciço”,

A minha mãe ainda está naquele lugar.

Diga para ela que apesar de todas as loucuras e sofrimento,

Um dia ainda vou visitá-la e aí sim, poder lhe abraçar.

Diga para ela que eu acordo bem cedo,

embarco no metrô, uma espécie de cobra cega

e vou sem destino para o tudo e ás vezes para o nada.

Fale para ela que para quem tem dinheiro, tudo é fácil.

até morrer eles morrem.

Mas para nós que somos miseráveis, até para morrer é difícil.

Já que você teve a graça de visitar o norte,

Diga a eles tudo isso por mim.

Ah!Diga que continuo nordestino sim!

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 18/12/2018
Código do texto: T6530162
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